Sempre
desconfio de quem tem ideias para melhorar a humanidade. Melhorar o design,
aperfeiçoar a raça. Sinto um arrepio, pois ouço um eco, não tão longínquo
assim, de eugenia a espreitar pelo buraco da fechadura da história.
O fantasma
parece muito vivo e mostra a cara sem pudor nas redes, agora nas ruas da Europa
e EUA. As razões são parecidas: a imigração descontrolada de refugiados para
Europa e a invasão dos latinos nos Estado Unidos. Tudo isso azeitado por um
populista que chegou ao poder exaltando o poder branco, muros, misoginia e uma
grandiosidade do país que pensa perdida. Ou seria apenas uma retórica
oportunista que deu certo?
Talvez seja
apenas outra faceta deste admirável mundo novo que a tecnologia promete. Ainda
timidamente um movimento começou entre europeus que se dizem transumanos. O que
seria esta nova casta de seres trans? São pessoas que acreditam aperfeiçoar e
melhorar os seres humanos com o uso da tecnologia. De que forma? Através de implantes de chips, ímãs,
eletrodos que, espalhados pelo corpo, dariam a estas pessoas sentidos mais
apurados, sensibilidades fora do comum. No momento, eles acreditam estar
coletando dados que comprovam sua controversa teoria.
Uma mulher
que adotou a filosofia diz ter implantado mais de cinquenta ímãs em todo o
corpo e ponta dos dedos, além de chips, inclusive um que substitui seu cartão
de crédito. Alguém sentiu um cheiro de apocalipse? Ainda não é para tanto. A
questão parece mais perturbadora do ponto de vista psicológico. Por que alguém
quereria superar a dimensão de carne e osso? Que fantasias acalenta uma pessoa
que deseja obter uma espécie de transcendência à condição humana com
instalações eletrônicas no corpo?
Não é
curioso que enquanto pessoas se maquinificam, a literatura e o cinema estão
cheio de máquinas que anseiam experimentar nossas humanas emoções? Sugiro a
interessante série original da HBO, Westworld.
Suspeito
que as pessoas bem resolvidas tem uma admiração e até assombro pelo que somos
do ponto de vista psicobiológico. No corpo há um sentido estético. É um
instrumento da manifestação da existência. Os transumanistas disfarçam uma
insatisfação com a limitação. Seria um tipo de novo de transtorno dismórfico
corporal? Uma versão ciborgue da vigorexia? Ou uma anorexia de ser gente?
O avanço da
biomecânica associada à eletrônica tem produzido próteses revolucionárias. Mas
o propósito é claramente direcionado para dar a alguém a qualidade de vida
perdida com uma amputação, por exemplo. O que impede de alguém saudável usar
esta tecnologia para se tornar superior? Nada. Mas é de se avaliar se estes
homens/mulheres de seis milhões de dólares ou estes Maxsteel são saudáveis
emocional e psiquicamente.
A
filosofia e a espiritualidade em cinco mil anos de história humana ensinam que
a maneira de evoluir é o conhecer a própria alma. O oráculo de Delfos dizia a
seus frenquentadores: conhece-te a ti mesmo. Não há maior aventura. A
descoberta de nosso universo interior não nos torna superiores, mas humildes.
Não nos faz melhores que ninguém, mas irmanados. Resulta também no conhecimento
do outro, afinal somos todos do mesmo barro. Transcendemos o humano nos
tornando mais humanizados.
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