Clientes falam em celulares
acorrentados a um guarda-sol em barraca de "minutero", vendedor de
minutos em ligações telefônicas. As correntes servem para evitar roubo dos
aparelhos desses típicos personagens das cidades colombianas.
Fonte: Rodrigo Bertolotto. Do UOL, em Leticia (Colômbia) (04/07/2015)
Costumava-se
dizer que a necessidade é a mãe das invenções. Na América Latina e alhures, a
pobreza é a mãe da esperteza e da sobrevivência.
“Um poquito
mas allá. Muy bien. Puede hablar, pero no demasiado fuerte.” O falante era
orientado pelo “minutero”, uma nova profissão que a tecnologia pariu. Não
exatamente a tecnologia. A falta de oportunidade. Com o celular à mão e este
amarrado por uma corrente firmemente agarrada à roupa do vendedor, o usuário
despacha o falatório.
Outros
acorrentam o celular a um paraguas gigante, daqueles de piscina. É para o caso
do falante esquecer-se e levar o celular por engano, coisa difícil de
acontecer, mas nunca se sabe. A ideia antifurto é genial, pois não? É um tanto
inconveniente por um guarda-sol no bolso. Vá lá, mesmo carregar debaixo do
braço para andar por aí ou, pior ainda, correr para evitar que o minutero,
justamente, queira o celular devolvido.
Apesar da
orientação do minutero ao falante, parece um tanto complicado fazer uma ligação
e manter a privacidade. Até porque tudo isso acontece no meio da rua e em
locais movimentados, posto que negócio escondido não vende. Assim que o usuário
deste inacreditável serviço deve se valer de alguma artimanha para guardar sua
intimidade, pois o falante vizinho, não raro, dez ao redor, acabe por prestar
mais atenção à sua conversa do que na dele.
Falar
intimidades de amores calientes, então: Mi amor, dime cosas calientes com tu
boca roja. Muy dificil, pues. O negócio é falar por código. Fulano, sabe
aquilo? Aquilo, lembra? Aquela coisa que a gente combinou. Como? Não sabe do
que estou falando? Não posso falar claramente. Entendeu? O outro lá vai
continuar sem entender porque é tanso em captar o código morse de palavras do
seu amigo.
Pode-se falar
apenas usando emoticons. Boa pedida. O danado é achar todos para expressar o
que se quer dizer. Tem a vantagem de ser silencioso, mas a desvantagem de que a
interpretação das carinhas não é exatamente uma unanimidade. Como é, aquela
carinha era um riso? E como é que eu ia saber, pois parecia alguém com dor de
barriga. Aquela nuvemzinha não era pum, mas alguém que saiu muito rápido do
local. Aí você está querendo demais!
Os minuteros
estavam fazendo a festa. Um sujeito começou sozinho, mas com dez celulares
amarrado à cintura, estava difícil administrar o empreendimento. Colocou a
mulher, o filho, o irmão e o cunhado mala. A família inteira minutera. Mas há
neste comércio, diz o governo, uma distorção da telecomunicação nacional. Mais
grave, bandidos descobriram o anonimato dos celulares dos minuteros. Nem se dão
ao trabalho de disfarçar a voz para extorquir, cobrar supostas dívidas e mandar
recado para familiares de gente sequestrada. A guerrilha FARC descobriu o nicho
para suas comunicações secretas. Tudo isso sob o manto do populacho falador e o
baratinamento das forças secretas governamentais. Os minuteros também são
acusados de contribuírem com seu trabalho subversivo para o aumento do
adultério, pois os amantes estão se esbaldando, enquanto seus celulares ficam
longe da bisbilhotice dos companheiros e companheiras.
Mas vida boa de pobre dura pouco. Estão se
descabelando porque com o Whatsapp o povo tá falando menos e dedilhando
horrores. Os celulares que usam são da geração olha a hora, disca o número. Os
smartphones são a verdadeira ameaça, porque do governo desmancha-prazeres o
sindicato dos homens-orelhão já está enfrentando. Aqui é um termo genérico, há
também mulheres no ofício. Os colombianos ainda não descobriram que existem
homens sapiens e mulheres sapiens, como descobriu a Dilma, assim bem separado e
cada qual no seu quadrado para não confundir. O que soa válido, pois o mundo
está meio louco nas definições de gênero e aquilo que você vê e pensa que é uma
coisa, é outra. Estão aí Romário e Ronaldo (ex) Fenômeno que não nos deixam
mentir.
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