As autoridades de Bangladesh usaram a criatividade
para tentar ganhar a batalha contra homens que urinam em locais públicos. Foram
colocadas advertências em árabe, o que é considerado pelos bengalis muçulmanos
como língua sagrada.
Fonte: G1
(08/05/2015)
Diz-se que
brasileiro é muito religioso. E é mesmo. O sujeito faz mandinga, simpatia, se
benze cada vez que passa na frente do cemitério ou igreja e agora que prolifera
trocentos tipos de versões ditas evangélicas, só esquenta o caldeirão – não é o
programa da Regina Cazé nem do Luciano Huck – da religiosidade popular. Rosa
ungida, carteira de trabalho ungida, panos, lenços e todo tipo de marmota
reflete uma fé que tudo abarca e em que cabe (quase) tudo.
Talvez por
isso, brasileiro também lida com muita intimidade com o divino e faz piada,
coloca os santos na roda, castiga até aqueles que, coitados, por descuido, se
esquecem de atender a um pedido, seja urgente ou impossível. Esta fé traquinas
beira o avacalho, mas é porque o brasileiro se sente de dentro da cozinha de
Deus e dos santos. Embora tenha, também, certa intimidade com o diabo que
excomunga e trata com tantos nomes, pois serve para ser culpado de tudo quanto
é ingrisia que acontece em sua vida. Mas é claro que tem muita formuleta para
espantar o coisa-ruim de seu quintal.
Dê tudo, menos
intimidade, diz o ditado. A intimidade excessiva perde o respeito. Mesmo com
cara contrita, o brasileiro médio está a um passo do sem pudor em sua relação
com o divino, o que faz com que eles pouco se importem com castigos. Isso
porque, devido sua proverbial cultura do jeitinho, está certo de que basta
chaleirar um pouquinho o santo ou Deus e já lhe tem os favores.
No distante e
exótico Bangladesh o povo também é muito religioso. Também existe ali um
amálgama de religiões que vai do animismo aos celerados muçulmanos, mas que, em
seu favor, deve-se reconhecer, são muito respeitosos com suas coisas divinas.
Até porque, um escorregão, e lá se vai uma dacapitaçãozinha, umas quantas
chicotadas nos lombos, uma lapidação básica só para manter o pessoal na linha.
Pois eis que
os homens bangladeshianos tem o péssimo hábito de urinar na rua. Coisa que por
aqui, evidentemente, não se vê. O brasileiro é cheio de pudor e respeita o
espaço público, por isso não mija na rua como parece ser prática comum daqueles
exóticos lá. Bom, nos muros e outros lugares havia frases solicitando aos
mijadores daquele país quase alienígena, que não fizessem suas necessidades no
meio da rua. Quem disse que funcionava?
Foi então que
o administrador de uma cidade teve a ideia luminosa de colocar as frases
proibitivas em árabe, língua que consideram sagrada por causa do livro sagrado
dos islamitas. Mesmo os analfabetos, mas que reconheciam as garatujas, deixaram
de urinar por medo de profanar a língua sagrada. A cidade ganhou imediatamente
um cheiro novo e perdeu o peculiar odor azedo da urina, que a tudo empesteava.
Como disse, o
brasileiro é religioso. É tanto que Fernando Henrique, ex-presidente, disse que
era cartesiano, mas com uma pitada de candomblé. A coisa é tão religiosa que um,
que se dizia evangélico, se reuniu dentro de um órgão público com seus
malandros e fez uma compungida oração para agradecer o dinheiro roubado. A
atitude do brasileiro é aquela de que não crê nas bruxas, mas que elas existem,
existem. Será que colocar dizeres em línguas sagradas no patrimônio público
inibiria os ladrões do erário? Sugiro um teste.
Por garantia, já que temos
uma babel religiosa na alma, deveria ser multilíngue e multirreligiosa, pois
poderia ocorrer que um ladrão, ao se deparar com um dizer, digamos, que não
fizesse parte de sua fé, perdesse seu caráter inibitório. Sugiro que os dizeres
não deveriam ser simplesmente: não pegue o dinheiro público. Ou: prezado
patife, abstenha-se de locupletar-se com os recursos públicos. Não adiantaria.
Deve, no caso dos brasileiros, ameaçar com vários infernos e várias eternidades
queimando e sendo torturado na pedra do capiroto. Será que vai funcionar?
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