O avião
aparentemente se perdeu entre nuvens baixas. O piloto surtado, embicou a
aeronave em direção ao chão no centro de uma grande cidade. Entre pedaços
humanos e destroços do avião, a caixa preta foi encontrada e acenou com a vã
esperança de uma explicação para o inaudito acidente. Surpresa. Nada havia
registrado. Conversas banais de outros voos. Estática. Em meio à convulsão
emocional, Marina disse que foi a providência divina que não permitiu que ela
viajasse naquele dia. Terá ela descoberto antes de todos que Deus resolveu
participar da campanha à sorrelfa? Terá o Todo Poderoso entrado de forma
apoteótica no embate sufragístico?
Julgar a fala
da Marina é uma armadilha com milhares de possibilidades de apenas ser minha
própria visão, meus conceitos e desconfianças com este tipo de afirmação.
Parece óbvio quando se diz depois de acontecido e cheira a injustiça com os
mortos. Sugere escolhas divinas que, do nosso ponto de vista, trazem sempre a
semente de um julgamento errado com excentricidades divinas. Fácil é dizer que Deus
escolheu Davi a Saul, mas a história está lá toda, explicada pelo próprio Deus.
Suas razões e contrarrazões da preferência, além das escancaradas pisadas de
bola do desditoso Saul.
O fato é que
se Deus entrou na campanha – lá da maneira dEle – as pessoas não estão dispostas
a deixá-lo sair. Não há um só suspiro de Marina que não se encontre uma
explicação para acusar Deus ou seus, digamos, seguidores, entre os quais Marina
se encontra. É como se tivessem um defeito de fábrica e pelo qual se exige um
recall.
A alteração no
programa a respeito do casamento gay virou a questão-símbolo do problema. Todo
mundo pergunta sobre. Dizem que Marina fez isso porque é interesseira e quer
atender aos evangélicos (e seus votos) e à pressão dos pastores e outros que
tais. Os movimentos audenominados progressistas entre os quais a militância gay,
resolveram botar o bloco na rua como se por causa de Deus e sei lá mais o quê
Marina tivesse traído a sociedade brasileira. Ninguém explica porque este tema
é mais importante do que tudo o mais.
Escandalizado,
o premiado escritor Milton Hatoun disse que retirava seu apoio a Marina por
causa deste seu defeito moral e de sua tendência a se tornar refém dos
religiosos. Segundo ele, seria o equivalente a ela dizer uma coisa e fazer
outra. Fiquei me perguntando: se o sr. Hatoun está tão mordido por Marina
adequar o programa a sua forma de ver a questão – sem Eduardo Campos é outra
campanha, pois não? – por que não vota nos candidatos que defendem com ardor a
causa gay? Há dois declarados.
Não sei se
Deus se sente numa saia justa neste imbróglio que ele, aparentemente, se meteu.
Ou O meteram. Não há provas contundentes de que ele tenha salvado Marina, nem
que tenha derrubado o avião. Dirão: Deus conduz a história e pode, sim,
derrubar um teco-teco para fazer cumprir sua soberana vontade. Outros
confirmarão profecias de que teríamos um presidente evangélico e Deus está só
dando uma ajudazinha. Marina ainda não acredita nisso, graças a Deus. Pelo
menos ela tem dito de todas as formas que sua fé é algo de foro íntimo, embora
se diga – a Folha disse dia 1º/08 – que Marina costuma tomar decisões na roleta
bíblica. Valha-nos Deus!
As pessoas não
acreditam nessa fé da porta da rua para dentro e a acusam de estar em conluio
com Deus para não permitir que o Brasil caminhe para uma Xangrilá de
direitos para todo tipo de bicho voante, rastejante e nadante (sem qualquer
dever ou estes antenuados ao máximo), que é para onde o PT acenava que nos
levaria e transformou o país numa avacalhação de movimentos oportunistas com
caras cada vez mais fascistas. Olha que ainda não escapamos do decreto
bolivariano-dilmista que criaria a Política Nacional de Participação Social.
De qualquer
modo, Marina corre sério risco de ganhar a eleição. Tenho muitas dúvidas sobre
sua capacidade e habilidade para navegar num mar bravio de um sistema
corrompido até o tutano e no qual o PT tratou de promover a gangrena moral do
pouco de seriedade que restava. Ela precisará de Deus, mas não da forma
messiânica que muitos pensam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário