domingo, 29 de junho de 2014

Os Mensadertais



O mais antigo cocô conhecido de um Neandertal revelou que os homens da caverna não comiam só carne, mas também gostavam de comer verduras também, revelou um estudo publicado nesta quarta-feira. A descoberta foi feita no sítio arqueológico de El Salt, onde cientistas descobriram sinais de que os neandertais viveram entre 45.000 e 60.000 anos atrás.

Fonte: AFP (www.afp.com 25/06/2014)

Há longínquos 35 mil anos, depois de um fim de semana reimoso, nosso aparentado pré-histórico aperreado – deve ter comido um sarrabulho já passado do ponto – resolveu aliviar-se numa caverninha qualquer. Por pudor, pois não? As Neandertaletes andavam por ali saracoteando e, imagino, não ficava bem fazer o serviço aos olhos curiosos e fofoqueiros, até porque, se de um Homo sapiens a coisa é feia, imagine o número dois de um Neandertal.
Aliviado do desembesto do bucho, nosso herói saiu displicente e assobiando algum hit da parada de sucessos do momento. Mal sabia ele que alguns poucos milhares de anos depois, seus concorrentes humanos esquadrinhariam seu coprólito, ou o que restou dele, para saber – vejam o irônico da situação – o que ele comia. Sarrabulho no MacOlítico, ele sabia, nunca mais.
Não há nada de inusitado em vasculhar o cocô alheio. No século XVIII e XIX, os médicos faziam parte de suas consultas olhando e (eca!!!) cheirando o cocô de seus pacientes. Chegou mesmo a prosperar uma psicologia, se não fecal, gastrointestinal. Estar nervoso desanda a barriga. Uma pessoa enfezada era alguém constipado, cheio de fezes. E que se não duvide, olhar seu cocô ainda é uma boa fonte de informação sobre doenças. Já fezes fossilizadas tem seu quê de importância e sofisticação, pois aspira explicar coisa do arco da velha da vida alheia desde obscuros tempos. Até prosperou uma análise.
Arquecoprologia. Inventei a palavra. Define bem o estudo. Arché, do grego, significa antigo. Copro, também do grego, significa fezes e logos, conhecimento. A novel ciência lançou um provocante artigo da prestigiosa Plus One, isso com ajuda da não menos reconhecida instituição científica MIT que cedeu equipamentos ultramodernos para espiolhar os produtos fecais e dizer, afinal, o que teria comido seu dono. Coisa que o leitor já sabe: nosso herói anônimo nunca quis ser dono daquele infeliz produto.
Num futuro distante, alguns milhares de anos adiante, nossos descendentes, talvez robotizados, vasculharão as lonjuras do Brasil. Talvez andem em ruínas pulverizadas de Brasília e ali, entre um coprólito e outro, reescreverão nossa história. O primeiro choque, certamente, será com a quantidade de merda fossilizada, formas, cores e tamanhos.
Um aparelhinho assim de pequeno lançará sua luz azulada sobre um excremento em particular e fará a leitura numa tela holográfica: caviar, Bourbon, camarões. O autor tinha uma queda pra contas em paraísos fiscais. Outra, de cor escurecida pelo tempo, entregava: lagosta ao cream cheese, uísque 50 anos e um pendor do dono para lavagens fiscais e financiamentos não contabilizados de campanhas políticas.
Os pesquisadores, entre eufóricos e surpresos, continuam lançando a tal luzinha azul em todo lugar, aquilo é como se fosse uma gigantesca latrina a céu aberto. Num amontoado esquisito, uma profusão de variedade e texturas intriga os arquecoprólogos. A leitura precisaria de um aparelho mais preciso e potente. Ao exame da luz, surgem as primeiras informações. Sarapatel, buchada, foie gras, cachaça, churrasco, um traço político comportamental sobressaía unindo os autores como se fossem de uma irmandade, companheirada, religião, tribo: todos praticavam uma coisa chamada mensalão. Chamaram os paleólogos para decifrar a palavra: aquele grupo foi batizado de Mensadertais. A lição que fica é que se você fizer merda, não importa quanto tempo dure ou quão escondido seja, alguém sempre descobre.

Nenhum comentário: