São 612
páginas de um texto marrento, desconstrutor de muitas “verdades”, de provocação
a “vacas sagradas” da cultura em geral, incluindo festejados e intocáveis da
música, literatura, mas especialmente da política nacional. Dizer que “O mínimo
que você precisa saber para não ser um idiota”, livro do filósofo Olavo de
Carvalho, é um libelo muitíssimo bem-vindo contra a maldição do politicamente
correto, é pouco. É uma marretada sem pudor ou pedido de desculpas – ainda bem
– num sem número de ideias, verdadeiras crenças, que se propagam como pragas do
Egito. Sua pena se levanta como lança contra este mundinho miserável organizado
por gente que não quer mais que exista a ideia-livre, apenas a ideia-massa.
Numa época de
discursos pasteurizados e uniformes, onde se vê como pecado mortal não
requentá-los em sua própria fala como se fossem oráculos sacrossantos de um
tempo mais livre (uma nova era?) e defensor dos direitos do diabo-que-os-carregue,
ler “O mínimo...” é um sopro de vento fresco arejador e provocador no marasmo
de nossas ideias acomodadas. Nunca houve tanto a necessidade de relembrar a
célebre unanimidade burra de que falava Nelson Rodrigues, pois é nisto que nos
encontramos, como pintos no lixo, já dizia Jamelão.
Vai que a
certa altura do livro começa-se a topar com repetições, afinal trata-se de uma
coletânea de textos escritos ao longo de vários anos o que dá a alguns um matiz
quase profético. Digo quase porque, à parte de seus acertos, trata-se de ver
com lucidez num mar de cegos por opção ou nem tanto, daí que não dá para
transformar o Olavo em um profeta seja do que for, pois nada recebeu de um vago
lampejo místico, mas de horas e horas dedicadas à análise do entorno e da leitura
de um sem número de autores, a maioria dos quais relegados pela academia. Falo
dos mais atuais, os antigos (Aristóteles, Platão, Santo Agostinho...) continuam
oferecendo farto material para se andar fora dos esquemas dos porcos da
política e sendo deturpados ao sabor da doutrina do conveniente. Relembro George Orwell (Eric Arthur Blair) em seu
impagável e atualíssimo “A revolução dos bichos”.
Não fica quase
nada em pé dos grandes temas modernos e sobre os quais, caso você não queira
ser um coitado, sofrer crítica e até, facilmente, discriminação, ter alguma
opinião a respeito, contanto que atenda ao status
quo. Se ousar se manifestar com o mínimo de independência deve, de
preferência, trazer sua fala enfeitada
pela frase:” não que eu tenha nada contra...” quando você quereria dizer que é
contra, sim, mas por prudência, deixa no ar que pede desculpas por pensar
ligeiramente fora do prumo admitido pelo pensamento hegemônico.
Assim, aborto,
liberação das drogas – particularmente a maconha –, o gayzismo (acho que eles
não gostam muito de serem chamados assim), políticas afirmativas e o socialismo
caboclo perpetrado pelo PT com sua sanha eterna de controlar imprensa, seu
cérebro, o judiciário – a infiltração de gente da laia do Tofolli no Supremo
nãos nos deixa mentir, olhem só o que o arteiro garoto acabou de aprontar
emitindo uma resolução que impede o MP de fiscalizar os políticos marginais no
período das eleições. Algo com um primor de desfaçatez e cara de pau difíceis
de acreditar. Nem falo do protagonismo dos mensaleiros que, encanados, declararam-se
perseguidos políticos. Mudaram roubo, furto e toda sorte de falcatrua, uma
lista do Código Penal, em ação política em favor do “glorioso” PT como se isso
os tornasse imunes a serem meros ladrões de galinha que são. Enfim, cada tema
mereceu uma, às vezes, irônica e bem humorada refutação, quando não denúncia.
Ninguém
precisa concordar com tudo que diz o Olavo. Claro. Alguns temas que defende são
controversos e por pouco não ficamos com aquela sensação de algum tipo de trama
hollywoodiana com direito a sofisticadas teorias da conspiração. De todo modo,
vale pensar a respeito. No mínimo, algum fundo de verdade tem. O que servir
para nos manter alertas, particularmente num ano eleitoral em que,
desgraçadamente, por absoluta anemia de candidatos para se opor à máquina de
votos que o PT montou, vai permitir que eles continuem com suas inúmeras bolsas
a manter cativos um mar de miseráveis que, curiosamente, só aumenta. Percebam
que, neste caso, há dois discursos: um que diz que o PT retirou milhões da
miséria. Outro que justifica o aumento constante de miseráveis carentes de
ajuda. A conta não bate, exceto se tiverem, na surdina, importando pobres de
nações miseráveis para o Brasil. Mas isso, acho, daria mais dor de cabeça ao
inepto Mantega com uma balança comercial desfavorável que só piora dia a dia.
Nem precisa muita
disposição. A leitura de “O mínimo...” prende pela desenvoltura e pelos textos eivados
de citações que lhe dão mais veracidade e de que, no fundo, você, pessoa
esclarecida, já sabia, só faltava um beliscão para acordar. Acho que pelo menos
o livro terá cumprido sua missão se nos colocar a todos um pouco mais
desconfiados com as continhas e espelhinhos que querem insistentemente nos dar.
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