domingo, 27 de outubro de 2013

A noiva enganada



Uma noiva chinesa se confundiu e fez sexo com um dos padrinhos na manhã seguinte após seu casamento na comarca de Napo, em Guangxi. A mulher disse que só percebeu que o homem na cama não era seu marido após o fim do ato sexual.

Fonte: G1, São Paulo (23/10/2013)

Imagine o cenário. Um lago de águas plácidas, emoldurado por montanhas, arrodeado por árvores que no outono ficam multicoloridas e balançam levemente pelo toque suave de uma brisa refrescante. Agora imagine um pequeno barco e um jovem casal que por ali navega, ri e namora. Imagine que o rapaz tenha um plano. A certa altura pedirá a moça em casamento. Pensou? Qual é a probabilidade de uma vaca – isso mesmo, a senhora do touro – literalmente cair do céu e matar a namorada?
Não sei calcular essa possibilidade, nem conheço quem possa fazê-lo. Talvez seja possível apenas na mente delirante do roteirista de “Um conto chinês”, filme argentino que vale a pena assistir. Então, qual seria a chance de uma noiva, na noite de núpcias, começar no quarto com o noivo e lá pelas tantas levantar-se para - que seja - ir ao banheiro e na volta errar o quarto, agarrar-se com um padrinho que casualmente estava num quarto contíguo, fazer tudo a que teria direito o noivo e somente pela manhã descobrir o engano?
Não senhoras e senhores leitores, isto não saiu de uma mente doentia ou de um lunático com fantasias esquisitas sobre a mulher alheia, ainda mais noiva recém-casada. Aconteceu. Quantas vezes já contei histórias do planeta China? Perdi as contas. Com um bilhão e  um Brasil de habitantes, um povo com cinco mil anos de cultura e história nada pode surpreender do que seja capaz. Quero convidá-los a explorar os escaninhos de uma investigação profunda sobre este caso. Para tanto, alguns personagens renomados foram convidados a esclarecer para nós tal assombro. Ouviu-se do Falcão a Felipão. Vocês leitores, fiquem à vontade para explorar outros ângulos da história, pois os da noiva um padrinho come-quieto já o fez. Essa piada não foi boa. Eu sei, eu sei, é infame. Esqueçam.
O marido, ouvidas as explicações da mulher enganada pela manhã, sol alto – vocês estão entendendo, não há trocadilho – revolta-se e processa o padrinho traidor. A noiva alega que não bebeu nada, apenas um coquetel de frutas sem álcool. Culpou a arquitetura do hotel, que colocou um banheiro em tal disposição que enganaria a qualquer um ou uma para se achar na penumbra. Quantos casos semelhantes não ocorreram? Isso exige processo contra o hotel. Reparação por perdas e danos, falta saber de quem. Imagino que os leitores atentos concordam com tal raciocínio. Lógica irrepreensível.
Por suposto, caro leitor perspicaz. Errar o caminho de volta é possível. Mas como explicar o aboletar-se na cama de outro, fazer vocês sabem o quê e não se dar conta de que aquele lá não era o marido? Muito bem. Faltou intimidade no namoro. Eram pudicos. Não havia referência de cheiros, formatos de corpo e tudo o mais. É fácil um se enganar. Sim, aquilo foi um baita espanto. Amor... nunca imaginei que você... (paralisa). Aquele não era seu marido. Procura na mente. É o padrinho! Claro, revoltou-se contra tamanha infâmia. Xingou, esbravejou.
É claro que o padrinho é culpado. Aproveitou-se da vulnerabilidade da moça. Ela disse que ao deitar, o safardana acariciou-a. Como duvidar que fosse o padrinho? Era muita desenvoltura, só podia ser o marido. Se  eram gêmeos o padrinho e o marido? Não consta. Sei que todos eles se parecem, mas são muito hábeis em se reconhecerem entre si.
O noivo, ainda atordoado com o inusitado da história, fez o que um homem faria: denunciou o tal padrinho à justiça. Era um claro furto de um direito sagrado. A honra de um homem havia sido achincalhada. Como é que se reparam estas coisas? Himenoplastia ainda está na moda – A Ângela Bismarchi que o diga –, mas era caro para o casal. Reparação em dinheiro cairia bem.
A justiça debateu-se tanto quanto o Supremo brasileiro no mensalão e concluiu o que o sábio leitor concluiria. O padrinho não tinha culpa. Achado não é roubado (nem furtado). Ele também, coitado, não sabia quem era a mulher. 

         Pensou que fosse um sonho, realista, sem dúvida, mas um sonho. Tudo foi consensual. E havia aquela escuridão, faltou luz ou coisa assim, justo naquela noite. Nada se falou. Logo não havia como descobrir. Não havia culpados. Tudo não passou de um grande engano. Que tal se a gente fingir que casou só hoje e que esta noite será nossa primeira juntos? É..., disse o noivo. Mas não vai ter padrinho por perto não, né?

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