Um exercício que demora apenas 21 minutos por ano é
o bastante para evitar a queda da felicidade conjugal. Essa é a proposta de um
estudo realizado pela Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, que será
publicado em breve no periódico Psychological Science.
De acordo com a pesquisa, um simples exercício de escrita imparcial sobre as
desavenças do casal, a ser realizado três vezes ao ano, pode ajudar a manter a
satisfação em relação ao casamento.
Fonte: Veja (Comportamento 07/02/2013)
O casamento de
Matilda estava por um fio. Nem boda de papel eles haviam completado.
Aparentemente eles se gostavam, mas picuinhas, maus bofes e pirraças que
trocavam de parte a parte estavam afundando o matrimônio. Peledrônio cutucava
as unhas no sofá. Tirava meleca do nariz e grudava onde lhe desse na telha.
Tinha também o péssimo hábito de cutucar os dentes com palito em qualquer lugar
(como sinal de boa educação, ele colocava a mão em concha para esconder) e
mastigava. Matilda deixava calcinha escorrendo no varal da toalha de rosto.
Esmagava a pasta como se quisesse torturá-la e ainda deixava sem a tampa. Cada
pequeno detalhe era motivo para desavença e dias sem se falar e sem mais nada,
se me entendem.
A cama era um
espaço de guerra particularmente acirrado. Disputavam o lado mais conveniente
para cada qual. Roubavam o travesseiro de estimação do outro, se espalhavam de
forma desembestada e os dois roncavam, mas culpavam um ao outro. Ele também
falava mal da mãe dela e dos cunhados. Ela desancava a mãe dele como metida e
excessivamente maternal com o filhinho da mainha. Nos dias de maior inspiração
na maldade, ela sugeria até um suposto trejeito afeminado. Era o que mais tirava
Peledrônio do sério, machista até a raiz dos cabelos e orgulhoso de sua macheza
rocambolesca.
Matilda ficou
sabendo de uma fórmula quase mágica para salvar aquele desastre ambulante no
que se transformou seu casamento. Para sua surpresa, Pelé (apelido caseiro do
indivíduo) topou. O especialista explicaria o que deveriam fazer numa reunião
exploratória. Quer dizer, ali se estabeleceria o reconhecimento dos atritos,
das querelas e o que mais fosse.
Diante do
especialista, compenetrados, aguardavam as instruções. Havia quase um certo
carinho entre eles. Muito bem, é tudo muito simples. A palavra “simples” despertou
logo uma desconfiança nos dois, mas já que estavam ali... Basta uma folha de
papel, uma caneta e vinte e um minutos... por ano. Sete minutos de cada vez.
Cada um escreverá nesta folha sua visão, olhando como se fosse um estranho que
quer o melhor para o casal. Pronto. O resultado deste exercício empático será a
harmonia da família.
Descrever
desavença era perigoso, no caso deles. Atiçava brigas velhas, algumas com
cheiro de mofo, mas que Matilda sempre achava uma maneira de relembrar com a
memória invejável que as mulheres têm para estes detalhes. Lembrem-se, alertou
o especialista, descrevam como se fosse um casal amigo que querem ajudar.
Matilda começou
a escrever com uma voracidade que dava medo. Pelé ficou olhando o papel e
virando de um lado para o outro. A ansiedade começou porque o silêncio
aumentava o barulho do cronômetro que tiquetaqueava como um cavalo trotando
dentro de sua cabeça. Como um raio o tempo se fora, segundos diminuíam agora no
mostrador. Matilda escrevia, escrevia. Rabiscava as últimas linhas do anverso
da folha. Pelé, distraído, entregue a sua incapacidade de pensar qualquer
coisa, rabiscou garatujas, escreveu o próprio nome, por fim, desenhou um
bonequinho enforcado para retratar vividamente sua incapacidade.
Era hora de
mostrar cada qual sua produção. Trocariam os papeis. Matilda, que estivera
alheia ao drama do marido, tomou o papel dele nas mãos, ávida para ler. Antes
que pensasse qualquer coisa, foi interpelada por Pelé que pedia os óculos para
ler aquela letra horrível e minúscula, disse. Ela se voltou para o papel dele e
nada vendo de significativo, deparou-se com o boneco enforcado. Ele espremia os
olhos para ler. Ora afastava, ora aproximava da vista, já impaciente, mas
entretido, pois esperava os óculos e resmungava que levaria três dias para ler
aquilo tudo.
Ela
explodiu. Que óculos? Sou tua mãe para andar te servindo? Tenho cara de ótica?
E que desenho é este? Éééééé... Ele tentou explicar. Então é assim que tu te
sentes em nosso casamento, enforcado? Rasgando o papel com ódio nos olhos. Pois
olha aqui, estou cortando tua corda. Vai te assanhar com tuas galinhas no
carnaval. Acabou a sessão.
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