O Ministério das Relações Exteriores concedeu
passaporte diplomático a quatro líderes evangélicos das igrejas Internacional
da Graça de Deus e Assembleia de Deus. Segundo a Agência Brasil, as portarias,
assinadas pelo ministro Antonio Patriota, referem-se a pedidos de outubro e
dezembro de 2012. Fonte: Revista Veja (16/01/2013)
A
revista Forbes fez um ranking, mostrando o tamanho das fortunas de pastores
brasileiros que ficaram milionários. Entre os nomes estão Edir Macedo, Valdemiro
Santiago e Silas Malafaia. Fonte: Revista Época
(18/01/2013)
O governo brasileiro,
representado por sua chancelaria, precisava se explicar. Mas, como se sabe, o
explicar-se para políticos e qualquer governo é uma das coisas mais difíceis.
Normalmente, eles tem que justificar coisas, por sua natureza, incompatíveis
com a lógica da vida, da justiça, da própria democracia que dizem representar e
da qual, por suposto, são ferozes defensores.
Uma das coisas que os políticos e
o governo de plantão abominam - a Cristina Elisabet
Fernández de Kirchner
que o diga - é lidar com a petulância e a sem cerimônia da imprensa e das
pessoas que acham que eles tem que dar satisfações de seus atos. Ô gentinha
infeliz!, pensam. Se o governo de plantão tem um viés esquerdista, a coisa se
dá assim: eles adoram tomar o poder com a democracia, mas amam muito mais
mandar sem ela.
O fato é que o Itamaraty estava
numa saia justa. Havia que chamar alguém probo, com coragem e, acima de tudo, a
principal característica, ser um sem-noção. Aristogênio Pimenta Carvalho e
Silva de Albuquerque – os diplomatas adoram serem chamados pelo nome completo –
era o homem para esta empreitada. Ele só não sabia disso. Os diplomatas de
carreira parecem que já nascem predestinados, com nomes enormes e meio
aristocráticos, embora falar disso no Brasil soe um tanto cômico.
Ari, como era conhecido na
intimidade das lides diplomáticas, era meio burro, apesar do gênio no nome e
nunca ocupou posição de destaque. Vivia enfurnado em montanhas de papéis
insignificantes e protocolares. Responder correspondência para “República” do
Waziristão, atender ao pedido de um diplomata de Vanuatu, etc, este era seu
mundo.
Eis que espoca um escândalo de
média intensidade – digo porque o Itamaraty fez ouvido mouco às críticas e
apenas disse, enfatuado, que a concessão de passaportes diplomáticos para
líderes religiosos havia sido feita em caráter excepcional. Considerou-se, para
tanto, uma brechinha assim de minúscula na lei, naturalmente subsidiada por
interpretação para lá de elástica e de hermenêutica suspeita.
O diabo é que os tais pastores,
bispas (essa palavra é ótima), apóstolos e potestades, haviam acabado de sair
em uma lista da Revista Forbes contando riqueza na casa dos milhões de dólares.
A resposta lacônica do Itamaraty teria satisfeito aos impertinentes, mas a
riqueza dos religiosos deu uma ligeira nódoa ao negócio. Aqui entra nosso herói
Aristogênio.
Ari, chegou a sua vez. Grave
crise nos ronda, disse o diplomata chefe. Nossa credibilidade está por um fio.
Não queremos Joaquim Nabuco e o Barão do Rio Branco se revirando nos túmulos.
Imagine que a imprensa capitalista, porco chauvinista está achincalhando nossa
briosa instituição alegando que demos passaportes diplomáticos para pastores
farrearem no exterior em seus jatinhos. Uma calúnia. Você foi escalado para falar
em nosso nome e defender nossa honra.
Ari estava que não cabia em si. Esperou
aquele momento a vida inteira. No dia da entrevista coletiva, assim enfrentaria
aquela corja, estava afiado como navalha. O discurso escrito para não dar
qualquer chance de perguntas desviantes e provocadoras. Leria, daria por
encerrado e pronto.
Senhores e senhoras jornalistas.
A recente querela sobre a emissão de passaportes para destacados religiosos de
nossa nação foi questionada como se fosse ilegal. Pode ser imoral, mas não
ilegal. Como sabem, em nossa pauta de exportação encontra-se também formas
particularmente bem sucedidas do cristianismo. O mesmo bem que faz aqui, fará
lá. Pessoas são estimuladas com mensagens de auto ajuda. Estimula-se a
iniciativa e mostra-se que a pobreza, a miséria e a falta de sorte – atentem os
senhores que nossos religiosos descobriram o botão mágico de deus – será
devidamente exterminada apenas tocando no tal botão que faz a cornucópia
celestial se abrir com toda sorte de riquezas. Estes pastores são um exemplo
admirável disso.
Por fim. Considerando que a
própria presidenta conta com estes fazedores de riqueza do nada para acabar com
a pobreza em nosso próprio país até 2014, final de seu mandato que ficará para
a posteridade como o mais progressista. Como gesto de boa fé para a humanidade
sofrida e com votos de que todos alcancem a mesma prosperidade destes mágicos,
diria mesmo, gênios da lâmpada maravilhosa que disporão por módica quantia, é
certo, a mesma fonte que os brasileiros já tem acesso. Imaginem o aumento de
entrada de divisas para nossa nação.
Estes passaportes inauguram,
inclusive, uma nova modalidade, os passaportes celestiais para religiosos e cósmicos
para os demais. Já já descobrimos além terra, outros planetas. Colonizaremos
Marte e ali e acolá precisarão ouvir as boas novas. Certo de que este
esclarecimento atenderá às suas demandas, mesmo injustas por informação, damos
o assunto por encerrado. Obrigado.
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