A realidade
superou em muito a ficção em 2013. Mas isso é só uma frase de efeito porque
toda ficção é filha do real, no mínimo, o enredo principal, que só depois é acrescido
de fatos absurdos por quem conta. Eu nunca estou preparado para a realidade e
tenho dificuldade de fazer planos e sonhar. Alguma coisa aqui perto me diz que
é preciso combinar com o Gerenciador do mundo e como me escapa seus planos e
vontade dos quais só percebo mal e porcamente alinhavos, me aquieto sem grandes
arrancos. Estranhice? Prudência de equilibrista? Tudo junto. Por que estou mais
para uma alma dodecaédrica que se inquieta e desinstala o tempo todo a qualquer
sopro de vento.
Tenho imagens
na mente do que foi o ano. Uma delas me provoca pelo rocambolesco e ridículo. É
impagável a visão do José Genoíno com o braço erguido e punho fechado,
cambaleante ao se lhe declarar voz de prisão. Rosto grave e desafiador com sua
honra rota e a cereja do bolo: uma toalha de mesa amarrada aos ombros, como
fazia meu filho quando pequeno para imitar o super homem. Coisa que me dava
medo porque ele acreditava piamente e, morando no terceiro andar, me ocorria
loucamente que ele poderia querer testar sua certeza. Só depois de indagar cá
com meus botões, entendi o nonsense: a toalha do José seria para cobrir o rosto
para fugir à carnificina dos fotógrafos, mas que o esfarrapado enfrentou com a
ira daqueles que se acham inatacáveis e, pegos no mal feito, se voltam contra o
mundo que os flagrou e, com isso, nos brindou com o grotesco.
Um pedaço de
minha alma ficou em janeiro. Atordoado, levei bons minutos para entender que
uma festa na boate beijo da morte tivesse se transformado no túmulo de 242
jovens. Até hoje sinto uma pena enorme pelo desperdício.
Na guerra
civil da Síria, mais uma, o mundo assistiu chocado àquilo que, por mais que se
esforce não entende: a luta fratricida manejada por ódios seculares e
alimentada por convicções religiosas ensandecidas. Não há limite nestes casos,
apenas a destruição total do inimigo é aceitável, se possível com gás sarin.
E, foi pena:
os americanos continuam bairristas e deram um Oscar para a atriz americana
Jennifer Lawrence, que é muito boa, mas não comparável com a atriz francesa de
Amor (Emanulle Riva), esta sim, com uma atuação irretocável, deu dimensão do
verdadeiro sofrimento de quando alguém é tocado pela doença na velhice.
Depois, vi que
um bebê chinês não desejado fora jogado na tubulação de uma casa. Entalado no
cano, chorou. Alguém ouviu e o bebê foi salvo. A resistência da vida venceu e
comoveu o mundo, eu incluído.
Vi o aumento
da intolerância aqui mesmo no país. O lobby gay se levantou contra o Marco
Feliciano por presidir a comissão de Direitos Humanos. Vimos até onde estes
defensores de “direitos” estão dispostos a chegar se seu programa pessoal for
contrariado.
Então, aquilo
que começou por uma queixa e reivindicação local, em São Paulo (a redução do
preço das passagens de ônibus e até o absurdo “passe livre”) despertou uma onda
de insatisfações guardadas pelos péssimos serviços que o brasileiro médio
recebe na saúde, transporte e segurança. O Maranhão que o diga, mas está tudo
bem, conforme diz seu mandatário, os bandidos estão se matando dentro da
cadeia, que mais dá? A manifestação desandou e o país por pouco não se
convulsionou com os saques e destruição que se seguiram. Agora tudo está como
dantes. Renan retomou seus voos nos aviões da FAB e os demais seguem aprontando
até que se descubra outra traquinagem.
O Brasil
esfriou como nunca e o mundo ainda não se decidiu se esquenta ou esfria. Perdeu-se
muita gente boa, alguns nem tanto. O país ganhou medalhas, os estádios foram
palco de torcidas marginais e governos estaduais deram espetáculo de desvio de
dinheiro em suas construções para a Copa. Ficamos em último na educação
comparado com outros países e o Eike perdeu só 25 bilhões de dólares. O
Maranhão, para variar, protagonizou vexames em quase todos os índices de
qualidade de vida e o Mais Médicos causou destrambelhos de médicos brasileiros
que reforçaram a posição ridícula do governo com sua solução meia boca às
custas de semi escravos cubanos.
A China botou
um robô na lua e nós explodimos mais um foguete com um satélite nacional. A
inflação se descontrolou e culparam o tomate. Os mensaleiros foram para a
cadeia e outros marginais também, como o Bruno, ex-goleiro do Flamengo. Isso
foi bom. Um monte de mulher resolveu que ficar nua – mostrar os peitos – é a
forma mais “inteligente” de protestar sei lá pelo quê. O Papa visitou o Brasil
e nos ganhou pela simpatia, apesar de ser Argentino.
Assisti
a filmes incríveis, amei, chorei, me frustrei e tive esperança. Sorri com
bobagem e com coisas engraçadas. Deus me deu saúde e aos meus. Sofri comigo e
com outros. Desentendi de tanta coisa e de outras apenas desconfiei o
entendimento. Caminhei ao lado de alguns e de outros me distanciei. Quebrei
promessas, realizei as que não prometi nem a mim. Encontrei o Grande Sertão e
li outras coisas incríveis que me acrescentaram um pouco mais. Encantei-me e
desencantei. Estou pronto para o que o ano que vem. Quero fazer coisas novas e
diferentes. Tenho planos, poucos. Surpreenda-me, 2014.