domingo, 12 de agosto de 2012

Palavrão no nome


A Net trocou o nome de uma cliente de Sorocaba (SP) na fatura de cobrança. O fato poderia ser considerado um simples equívoco, não fosse um detalhe: "Katia" virou "Vadia", e isso pouco depois de ela discutir com uma atendente da empresa por telefone.

Fonte: Folha de São Paulo (Cotidiano - 02/08/2012)

Este curso, senhoras e senhores telemartiqueiros, lhes dará habilidade na resposta aos clientes enfadonhos, reclamões e que ficam com esta história de direitos. Meus serviços tem tido grande aceitação. As empresas não dizem, nem assumem, porque há de se reconhecer que com este monte de leizinhas a favor do senhor cliente todo-poderoso os serviços de atendimento ficam na berlinda e na eterna defensiva, tendo que dar explicações estapafúrdias para aquelas coisinhas que a gente tem que botar para baixo do tapete. Basta uma ligação não completar, uma cobrança a mais e pronto, chove reclamação. Querem um exemplo? Só por que a TIM derrubou quase 9 milhões de ligações para ganhar um pouquinho mais, foi uma chiadeira horrível. Afinal, quem não erra uma vezinha ou outra.
Vocês, telemartiqueiros, sofrem como condenados. Estão num permanente paredão de execução. A empresa é obrigada a pagar tratamento psicológico pelos danos emocionais sofridos. Quem aqui não está cheio de ódio dos clientes? Um monte de mão se ergueu. Acabou, nada de guardar rancor. Aqui se aprende a responder na lata e a fazer outras coisinhas. Pequenas vinganças sobre as quais já falaremos.  Enfim, as empresas estão encurraladas com tratamentos de seus pobres funcionários. Os gastos chegam a níveis estratosféricos. Mais barato enfrentar o cliente que sofrer calado, especialmente os mal educados e que a toda hora nos ameaçam com o procon. Dane-se o procon, nosso inimigo figadal.
Figa o quê? Como assim, minha filha? O senhor falou figa. A gente precisa, a nossa sorte vai mal. Uma figa ajuda. Qualquer coisa ajuda. Ô, ô, ô... Não falei nada de figa. Figadal. F-i-g-a-d-a-l. Entendeu? Deixa pra lá. Foco no principal. Estamos aqui para aprender a revidar. Olho por olho, dente por dente. A central de reclamação que se chama modernamente de central de relacionamento, é nossa praça de guerra. Bateu, levou. Vocês acham que as operadoras de telefonia vão bem por quê? Pancada no cliente. Propaganda massificada oferecendo o paraíso. Jornalistas falando bem e no bastidor, cacete.
Se formos descobertos, alguém vai à imprensa e nega o fato. Reafirma nossos princípios de respeito ao cliente. Pede desculpa, se for o caso. Importante. Afirmar que o colaborador foi sumariamente demitido. Haverá, inclusive, revisão de procedimentos e adequação. Alegar que os colaboradores são submetidos a milhares de horas de treinamento e adestrados a responder e acolher o cliente em qualquer reclamação. Blá, blá, blá...
Agora, da porta pra dentro, não é para aliviar nada. A lei de tempo de atendimento? Bobagem. Impede a enrolação e dar caldo na espera? Tolice. Ninguém fiscaliza. É fazer o danado do cliente passear por cinquenta números e trocentas opções. Dá pra deitar e rolar, é isso que vou ensinar.
Mas vamos à prática, aprendizes. Alguém tem algum exemplo real para ensinarmos como agir? Nosso curso vai ser todo prático. Eu tenho, disse uma mulher. Outro dia uma talzinha ligou alegando que o serviço havia sido cortado. Ora, ela não  pagou. A tal disse que queria pagar, mas eu não “tava” boa nesse dia. Deixei ela esperando um tempão. Fui beber água. Conversei com a Ritinha, minha colega. E desliguei o telefone. Ela ainda estava esperando. Risos da platéia que chegou a aplaudir. O professor exultou. Você é telemartiqueira nata. Você tem futuro como facilitadora de outras turmas. Uma pergunta, ela xingou você? Não. Foi apenas impertinente. Um tipinho, não é? Do que chamaríamos a dita? Vadia! Alguém gritou. Apupos, risos, aplausos. O professor sugeriu que se fizesse uma traquinagem para lhe dar uma lição. A bomba vai pelo correio, disse.
Chama o cara da informática. Todos podem acompanhar em seus terminais. Bota aí: Vadia. No lugar do nome, sim. Assim, sem sobrenome. Em caixa alta pra ela entender que é um berro. Vai ler dez vezes antes de cair a ficha. Isso é pra ela aprender a não reclamar dos excelentes serviços de nossa operadora.

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