Demora e dá um bocado de trabalho,
mas aparelhos de ressonância magnética já podem ser empregados para
"conversar" usando apenas a força do pensamento.
A tecnologia, descrita por
pesquisadores da Holanda e da Alemanha em artigo na revista científica
"Current Biology", usa padrões cerebrais específicos para codificar
cada uma das letras do alfabeto e mais uma "tecla de espaço" mental.
Fonte: Folha de S.
Paulo – Ciência e Saúde (29/06/2012)
Até agora as experiências no
campo da leitura da mente tem caminhado a passo de cágado. Veloz mesmo somente
entre os mágicos que, por artimanhas que nos deixam abobalhados, “leem” nossas
mentes. Por evidente, dentro do ambiente e palco que eles preparam. Não fosse
isso, seriam tão analfabetos quanto qualquer um de nós. Há a turma da
parapsicologia que jura de pés juntos que há indivíduos capazes de tal façanha
telepática. Mas basta colocá-los à prova e como que por um milagre ao
contrário, perdem a tal propalada habilidade. Assim, continuam fazendo sucesso
apenas em seu mundinho onde há sempre um público ávido por estas bizarrices.
Japoneses e europeus estariam na
frente da corrida da leitura do cérebro. Americanos tem lá sua versão e nós,
brasileiros, expomo-nos por própria vontade a leitores de mãos ciganos, astrólogos,
tarólogos, mães dinás e outros bichos. Mas, deboche à parte, estimulemos um
pouco nosso incipiente sentido de teorias da conspiração, no que os americanos
são pródigos. Imagine você que, por aí, já exista uma maquininha do tamanho de
uma câmera fotográfica e que se disfarce da própria e que ao tirar uma
“fotografia”, de fato, arranca do seu cérebro os pensamentos mais secretos e
recônditos.
Recordo de uma velha professora,
nos longínquos anos oitenta, que se deliciava com a hipótese desta última
fronteira ser indevassável. Ria traquinas com a possibilidade que todos temos
de dizer-pensar as piores barbaridades na cara do outro sem que por isso sejamos
penalizados sequer por um banal rubor de vergonha. Boa época em que nem por
hipótese se cogitava a possibilidade de uma máquina leitora de mentes.
Catastrófico, só consigo cogitar os piores cenários. Sim, porque temos este
pendor irrefreável de transformar algo bom em maligno.
Não haveria mais traições. Quer
dizer, todas seriam sumariamente descobertas quando o cônjuge traidor se
deliciasse desavergonhadamente na sua presença das cenas tórridas que horas
antes tivesse vivido com o/a agente da traição. Pensar alto ganharia, desta
forma, uma concretude desconcertante. A verbalização seria quase que desnecessária
no que, em certas circunstâncias, seria uma bênção.
Imagine um encontro. Depois das
saudações protocolares, a primeira coisa a fazer seria decidir: com ou sem
leitor de mente. Para aqueles casos em que a confiança seria um artigo raro ou
inexistente, cada qual se muniria com um aparelhinho, uma espécie de bina, que
detectaria a presença do devassador de mentes. Com o avanço da ciência, e
nestas poucas linhas que avancei no texto, aquilo que era do tamanho de uma máquina
fotográfica no parágrafo anterior, aqui já estaria reduzido a algo do tamanho
de um ipod nano – ainda existe esta velharia? Neste parágrafo, então, já se
confundiria com uma caneta ou até um botão da blusa, se é que haverá botões a
esta altura.
Prevejo, por outro lado que, por
fim, a grave pergunta freudiana “o que querem as mulheres?” encontraria sua
resposta definitiva. Acabaria para os homens os velho enigma feminino que a
tantos perturba. O velho joguinho de palavras: ora dizem “sim” quando querem
dizer “não” ou aquele “não” sem convicção e maroto que, na verdade, é um “sim”.
Logo a criatividade humana que é
ladina, inventaria um capacete bloqueador de pensamentos como aquele do Magneto
contra o Prof.Xavier do filme X-Man. Claro, a indústria faria não um capacete,
mas variados modelos e capacidades de bloqueio. O basicão não bloquearia mais
que xingamentos ou os mais sórdidos pensamentos sexualmente falando, o que não
seria de muita valia, pois o contexto, como nos apitos ridículos que se vê na
tv quando alguém diz palavrão, denunciaria o pensante. Bom mesmo, mas só os ricos
teriam, seria aquele capacete que ao se tentar ler, o leitor só se depararia
com um nada absoluto o que, sem ele, revelaria uma morte cerebral.
Sei, as conversas informais
estariam praticamente banidas porque mesmo nestas falas, hoje, por mais
singelas que sejam, somos assaltados pelos pensamentos mais escandalosos,
raivosos e sanguinários. Por suposto, eles vem e vão como ondas sujas, cheias
de detritos e quase nem registramos porque por alguma razão eles estão lá e vem
à tona. Por cima, manda a urbanidade, a educação e bons modos. Minha
professora, neste sentido, tinha total razão. Ali, por entre as fissuras do
cérebro passeiam o que quisermos, livres e soltos, os mais assassinos, viris e
cínicos pensamentos, enquanto a cara mostra inocência ou um sorriso delicado de
aprovação como uma boa cobertura de bolo.
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