Brasília vivia uma
tarde agitada nesta quarta-feira, com a CPI do Cachoeira pegando fogo e o mundo
político esperando novos capítulos do embate Lula-Gilmar Mendes. Mas na Câmara
dos Deputados, apenas um assunto interessava: quem é o dono da calcinha?
Fonte: Folha de São
Paulo (Márcio Falcão, de Brasília – 30/05/2012)
O maior mistério da República,
destacou um jornal. Havia um quê de ironia e galhofa no título. Eram tantas
versões para o fato que se tornou impossível rastrear toda a história. Outros
jornais foram mais diretos e perguntavam: de quem era a calcinha? Alguns diziam
que nunca houve a tal vestimenta de baixo, mas inúmeras testemunhas supostamente
oculares afirmavam quase sôfregas, numa espécie de êxtase, sim, haviam visto a
calcinha. Destes, alguns simplesmente foram alçados à condição de subdivindades,
pois haviam tocado o objeto mais procurado naquele momento e, ao passar, se
pedia para tocar ou beijar suas puras mãos que tocaram o objeto sagrado.
A Abin, a CIA brasileira, fora
chamada pelo presidente da Câmara para rastrear o objeto. Logo haviam cachorros
especialmente importados a peso de ouro para realizar a tarefa, como só a
Câmara sabe fazer. Aparelhos sofisticadíssimos foram instalados. Alguns
lançavam jatos de laseres multicoloridos que analisavam moléculas dispersas no
ar e por isto eram capazes de montar o retrato falado da última usuária da
calcinha.
Diversos grupos em redes sociais
se autonomearam seguidores de uma seita obscura que reverenciavam a calcinha. O
criptossanto patrono da causa era o finado Wando. De fato, alas mais radicais
da seita afirmavam ter visto o próprio zanzando pelos corredores da Câmara
Federal coberto de calcinhas, até mesmo naquele beiço monumental que possuía.
Seu lema era: Wando vive. Ora, se o Elvis ainda está vivo, por que não nosso
Wando? A polícia legislativa teve trabalho, pois entre os servidores fantasmas apareceu
uma gang anarquista cujo símbolo era uma calcinha com um grande A na parte
frontal.
Uma questão que mobilizou as
melhores mentes do legislativo federal era sobre o design da calcinha. Uns
diziam que nunca passou de uma reles calçola branca com flozinhas vermelhas. Mas
a mente corria solta. Outras versões do objeto o descreviam com rendas,
transparências e cavas inacreditáveis, mas nunca chegou a fio dental.
A versão oficial, forjada não se
sabe em que escaninho da Câmara, dava conta de que um deputado, membro do
baixíssimo clero, se distraía pelos corredores, já que não tinha nada para
fazer. O celular tocou. Enquanto procurava o danado que dançava em algum dos
bolsos do paletó, entre tirar papéis, moedas, dinheiro em espécie, jóias e
relógios, deixou a tal calcinha cair por distração. Às risadas, seguiu seu
caminho. Prometia algo para uma tal Bilu Tetéia a quem elogiou a fartura do
traseiro e sumiu.
Três outros colegas viram o
objeto misterioso cair, mas acometidos por pudores sabe-se lá vindos de onde ou
mesmo porque desejassem que o outro caísse em desgraça, exposto publicamente
como usador de calcinhas, posto que sobre ele haviam conversas de coxia
afirmando categoricamente que se travestia, em noites de lua, de uma tal Pâmela
Star, o que não foi confirmado com provas cabais e irretorquíveis.
Entre a hesitação e o ato, um
serventuário terceirizado de uma empresa que foi contratada com dispensa de
licitação por absoluta capacidade no ofício, pegou a calcinha e tentou colocar
no bolso, mas temeu ser visto pelos camaradinhas do outro e disse alto para não
deixar dúvida sobre sua integridade de zeloso trabalhador da higienização: VOU
LEVAR À CENTRAL DE ACHADOS E PERDIDOS, MAS ANTES VOU LEVAR AO PRESIDENTE DA
CASA.
Aqueles outros deram de ombros,
que podiam fazer? A calcinha, porém, sumiu. O presidente da casa afirma que a
viu e aventurou-se a descrevê-la no que foi impedido por membro de sua
acessoria pessoal. Alguns lembraram de famosa música dos anos oitenta que fazia
alusão a uma louraça belzebu, natural de Irajá, chamada Kátia Flávia. Dizem que
muitos senadores se perderam em suas curvas e agora, já tendo passado quase os
81 no papo, resolveu encarar pelo menos metade dos mais de 500 picaretas como
diria Lula, o achacador de ministro do Supremo.
Nunca se confirmou a presença
da endiabrada louraça, mas é fato mais próximo da verdade: uma calcinha
perambulou entre mãos de nobres excelências e sumiu sem deixar rastros. Agora,
corre muito sorrateiramente uma história ainda mais cabeluda. Alguém diz com os
pés juntos, sinal da cruz e a frase “juro por minha mãe mortinha” que
determinado deputado ao abaixar para apanhar um botom, não só mostrou um
cofrinho seboso, como revelou a barra da tal calcinha. Suas nobilissímas
excelências deliberam agora por um teste do abaixamento a que todos os
deputados deverão se submeter, o que não pode é a nação inteira ficar neste
suspense.
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