Um objeto metálico não identificado provocou um alvoroço nesta quarta-feira
de Cinzas em duas cidades de pouco mais de 10 mil habitantes no interior do
Maranhão. Moradores de Anapurus e de Mata Roma afirmam que o globo caiu do céu.
Fonte:
G1, São Paulo (Rosanne D'Agostino - 23/02/2012 18h33)
A notícia se alastrou rápido que
nem fogo em capim seco. Raimundo Ribamar, de repente, viu-se diante da sorte
grande. Isto em plena quarta-feira de cinzas, quando ainda descansava
merecidamente da esbórnia. Este ano saiu em quatro blocos de sujos com a
fantasia de quebradeira de côco, sem o machado, por suposto. Chamou-se de Maria
Côcoaçu e, fosse numa grande capital, seria destaque em trio elétrico, Galo da
Madrugada e em qualquer banda de axé. Mas em Anapurus, restava a resignação de
ser rainha em seu torrão.
RR, que não é o Soares, sabe-se
especial desde sempre. Assim que, com esta empáfia, não dá um prego e com artes
manipulatórias precisas, traz a companheira a cabresto, trabalhando feito uma
Bertoleza para que ele ande sempre de unhas feitas, camisa e calças gomadas e
impecáveis. Isso sem falar nos cabelos encaracolados que já rareiam, mas que
ele traz assentados e escorridos por artes de espichamentos caseiros. A mulher
acredita piamente quando ele diz que não nasceu para esta vida pequena do
interior, pois nasceu para grandes coisas.
Um estrondo gigantesco abalou não
só os ouvidos a léguas de distância, como o chão tremeu também. Justo em sua
propriedade de algumas parcas linhas, caiu por sobre a rede de RR um OMNI, isto
depois de passar raspando o telhado de palha, chegando a deixá-lo chamuscado.
RR despencou da rede, tamanho o susto. Ali, a dois metros, no fundo de um
buraco, jazia fumegando o OMNI. Os cinco filhos saíram em desabalada carreira e
ele, estatelado, arrumava as ideias tentando se achar.
Receoso, aproximou-se daquilo que
parecia um botijão redondo, uma bola, bóia ou seja lá o que fosse. Claro estava
que aquilo caiu do céu. Mas de onde meu Deus? Escarafunchava o juízo. Ora,
aquilo era um OMNI, um aviso do céu, um sinal do fim do mundo, quem sabe? Cabia
qualquer coisa e ele tinha que ganhar algo com isso.
Nem bem arrumou-se e já havia uma
queira de gente fuçando em seu quintal. Um pouco mais adiante, seu vizinho,
igualmente malandro, já colocara uma corda de embira para delimitar a área a
ser preservada, dizia. Uns outros já atuavam como flanelinhas. Dona Quartelina,
beata desajuizada, liderava ladainhas pelo lado de fora pedindo as
misericórdias celestiais porque aquela, afirmava, foi a verdadeira queda do Capiroto
na terra. Isso por um lado, por outro ameaçava os curiosos com a perdição
eterna. E de longe, já se ouvia a sirene da polícia que fora chamada por algum
intrometido ou ouvira o estrondo também.
RR estava arrodeado de ameaças à
sua sorte. Havia que tomar medidas enérgicas e rápido. Fustigou dona Quartelina
com seus seguidores, deu um chega pra lá no vizinho oportunista e começou a
botar ordem na bagunça porque, a estas alturas, havia gente de meio mundo ao
redor. Chamou a atenção do público. Pessoal, isto que vocês veem em minha
propriedade é um OMNI. Os ignorantes pensam ser outra coisa. O fim do mundo
virá, porque dentro da bola, algo falou comigo, aqui, dentro de minha cabeça. A
bola é oca, mas tem energia, olha como está quente. O povo, alvoroçado,
calou-se, mas permanecia mais inquieto ante o que falava RR. Ele, como um novo
profeta, pregava sua visão: afinal, fora escolhido pelos deuses. O OMNI não
caíra ali por acaso, mas por arte divina.
Vamos afastar um pouco, porque de
dentro desta coisa de metal, deste OMNI, sai um poder que pode derreter o tino
de qualquer um que não esteja preparado. Sua mulher, que chegara da roça,
ajoelhou-se em frente do marido, no que foi seguida por um monte de gente. Aquilo
lhe deixou que não cabia em si. A sirene da polícia tocava mais perto. Ao
longe, uns debochados questionavam o profeta do OMNI. Todo profeta que se preza
tem que ter uns incréus para lhe descrer a mensagem.
Por fim, chegou a polícia. Sg.
Pereirão e seus dois meganhas. Suspendeu as calças para dar um ar de ordem e
respeito e foi logo dizendo que todos se afastassem que ele viera a mando do
comando central proteger o OMNI. RR protestou, mas foi logo empurrado pelos
dois meganhas. Os novos crentes gritaram que o OMNI era de sua nova revelação.
RR disse que era dele, pois caíra em seu quintal e ele fora escolhido. Pereirão
não quis saber e, carregado de sua ignorância bruta de incréu, ordenou que
alguns dos novos crentes retirassem o OMNI do buraco e colocassem na carroceria
da viatura. Seria levada para a delegacia para averiguações e espera de novas
ordens do comando. RR, desolado, sozinho, viu seu OMNI partir sacolejando de
forma vil na carroceria, enquanto um meganha apoiava um pé, displicente, no
objeto sagrado.
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