Tem gente que se consome nesta época do ano. Nem a
semana do Natal acabou e lá vem outra festa. E o Natal cobra que é uma beleza:
do estômago e do bolso. As duas coisas fazem parte do combo padrão ou você não
está no espírito do natalino. Chega mesmo a se sentir a pior das criaturas se
não tiver com quem compartilhar a ceia e, fatalidade das fatalidades, ser
participante de algum amigo invisível que, para agradar todo mundo, estabelece
que o presente tem que ser de trinta reais, por aí. E alguém no espírito do
momento justifica: é para que todo mundo participe. É só uma lembrancinha para
marcar a data. Dane-se, o que é que se compra com míseros trinta reais?
Bugiganga chinesa com cores e desenhos trash e que não servem para nada.
Minha decisão de fim de ano, válido para o próximo,
claro: não participarei de amigo invisível nenhum. Até porque tenho a desdita
de quase nunca ganhar nada que preste ou criativo ou inteligente. Faço um
desagravo para este ano que ganhei um livro. Mas, de verdade, não conheço ninguém
que diga que tem sorte em amigo invisível.
Não se aborreça, leitor, se ainda falo do Natal que
agora parece tão distante quanto alguma nebulosa galática. Mas tem festa com
mais cara de família do que esta? Para azar da maioria das pessoas que conheço.
A ceia, não raro, é uma arapuca cheia de risos e mesuras que são pura
hipocrisia com fita. Gente que não se falou o ano inteiro e nem queria estar
junta, obriga-se ao convescote natalino pedindo a Deus que tudo acabe, o diabo
do galo cante, que os reis magos entreguem os tais presentes e acabem aquelas
imitações de sino que tocam dentro de seu juízo.
Então, você mal escapou de todas as armadilhas dos
ajuntamentos com sua tribo particular e lá vem outra dose, sem dúvida, cada ano
mais carnavalesca e mais longe do seio familiar. A festa do ano novo. E lá vai
você desejar feliz ano novo para tudo quanto é gente e que você nem daria bom
dia se encontrasse no elevador. Mas é o de menos. A rasteira ainda virá. Seguir
o script: vestir branco, comer lentilhas, entupir a carteira com sementes de
romã, dar saltinhos nas ondas, não andar para trás, vestir cuecas ou calcinhas
de cores essa e aquela porque atraem o que você estiver necessitado(a). Ufa!
Calma. Ainda faltam as promessas de ano novo. Tem gente
que pergunta quais promessas você fez, tem gente que fica falando as suas,
mesmo que você não pergunte. E tem gente que roga praga. Descobri que não estou
em nem um destes times. Mas promessa ou resolução – parece mais sério e dá a
entender que você cumprirá mesmo – são feitas para uma coisa: a gente esquecer
logo que o ano entra.
Tem sua função, nos faz feliz por um minuto quando
acreditamos mesmo no que dizemos. Pode ser qualquer coisa que por preguiça,
falta de vontade, leniência, falta de vergonha, se decidiu realizar dois três
anos antes e se teve a oportunidade de fazer quatrocentas vezes e não se fez.
Dá um alívio dizer: agora é pra valer... Alguém lembra a promessa que fez a si
mesmo(a) ano passado? Lembre agora e diga de novo, quem sabe desta vez...
FELIZ 2012 A TODOS OS LEITORES.
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