A mulher de um
deputado britânico foi considerada culpada pela Justiça de Birmingham por
invadir a casa da amante do marido e furtar a gata da rival. Christine Hemming,
53 anos, levou o animal de estimação da amante Emily Cox três dias depois de
separar-se de John Hemming, em setembro do ano passado.
Fonte: UOL Notícias
(30/09/2011)
O ciúme é corrosivo. A rejeição é
agonizante. Entre estes dois estados oscilava Martira. Trinta e oito anos de
casamento jogados fora assim, sem mais. Trocada por uma zinha saracoteante que,
segundo ouvia, não remoçava o ex-marido, dava-lhe uma ar de trouxa com um riso
na boca. Pelo menos isso, ser ridículo à vista de todos, era um pouco de
satisfação. Mas logo lhe atravessava um pensamento: mas por mim, por mim,
quando ele foi ridículo? E tudo voltava à estaca zero em seus sentimentos.
Esteve com o infeliz nos piores
momentos. Ele apenas engatinhava na política, era mero cabo eleitoral,
sindicalista reles. Noites insones, comícios, agitações, o diabo. Ela recebia
em casa aquele tropel de imbecis que comiam feito porcos, sujavam sua casa,
bebiam feito gambás e ela servindo petisco feito uma Bertoleza. Agora era
deputado e ela uma mulher largada e fustigada pelo desmerecimento.
Todo mundo sabia que a piriguete
que ele arrumou era sambada e conhecida na roda. Saíra em duas ou três revistas
de nu artístico como dizia, pois se apresentava como modelo. Os tais nus
artísticos mais pareciam cenas recortadas de filme pornô de quinta categoria. E
pensam que ele se envergonhava da tal ter mostrado as entranhas publicamente da
forma mais explícita possível? Nada. Ele que até guardava algum pudor nestas
coisas, chegou a estudar em seminário.
De certo modo já se sentia
vingada dele. A pensão era boa e ai dele se não tivesse dado o que pediu. O
implante no cabelo, as sobrancelhas delineadas, a maquiagem e a depilação das
axilas davam-lhe um aspecto de boneco de plástico. Depois da aplicação de
botox, então, o riso meio paralisado transformaram-no no próprio Coringa. Era
hilário. A sirigaita mandava e desmandava na vida dele agora. Disse que o
repaginou para ficar mais jovem.
Martira, contudo, não se sentia
vingada completamente. Era preciso atingir aquela ladra de marido alheio. Não
que ele fizesse falta, mas já estava acostumada. Mas onde doeria na sarfadana? Sem
querer descobre que o “amor” da vida da sujeita era um gato que chamava de
mimo. Nem se conteve, deu um gritinho de êxtase antevendo sua ira vingada.
Sorrateiramente entrou na casa
dos pombinhos e roubou o gato. Por azar, uma câmera filmou tudo e foi
descoberta. Não depois da cutruca dar escândalos até na tv. Foi um chilique só.
A câmera de vigilância a dedurou. Sentiu-se ridícula entrando sorrateira e
sendo questionada pelo sumiço do gato. Mesmo diante das imagens, negou. Quando
disseram que carregava um gato debaixo do braço, fingiu espanto. Era um gato?
Resolveu ter uma ataque de amnésia.
Fui apenas deixar uma catrevage
que meu ex deixou lá em casa. Não queria lembrança dele lá. Jamais faria
qualquer coisa com o animalzinho. Dizia com olhos cândidos. O vídeo mostra a
senhora com o gato na mão. Afagava o pobre animal que parecia faminto. A
senhora aparece saindo do recinto com o gato à tiracolo. Quem disse que sou eu?
É uma pessoa de costas, parecida comigo, reconheço, mas não eu. Qualquer um
poderia pegar o fofinho, bem cuidado. Tem muita gente má. Já pediram resgate?
Dizem que agora é moda. Tem gente que gosta mais de bicho que de pessoas,
sabia?
O investigador sugeriu que
bastava devolver o gato e tudo acabaria. A dona do animal estava disposta a
esquecer o ocorrido. Mas se devolvesse, onde ficaria sua vingança? Ora, se o
sofrimento da peste é que lhe dava alegria. Bateu o pé entre um esquecimento,
sonambulismo e a negação descarada. Foi ameaçada de processo, mas o que seria
um processozinho diante da alegria que sentia de vê-la descabelada e
macambúzia? Dava até pena. Sentia toda a carga prazerosa do desdém nesta frase.
Sem contar que ela faria da vida do ex um inferno. Que a processassem.
O investigador, desolado, ante
tamanha renitência, jogou a toalha. Pois diga, o que fez com o gato? Nem afirmo
nem nego nada. O senhor me julga por segundos em que apareço no vídeo que,
repito, afagava o animalito – disse com as mãos em forma de garra. A senhora é
a única suspeita. Quem sabe, respondeu Martira, não foi um desses vendedores de
churrasquinho de gato, dizem que um petisco saboroso, embora, naturalmente,
atentem contra nossos tabus e a vigilância sanitária, não é?
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