Um passageiro de 42 anos foi preso durante um voo entre Los Angeles e Salt Lake City, nos EUA, acusado de jogar amendoins e salgadinhos em uma aeromoça da companhia Southwest Airlines, segundo a emissora de TV "Fox".
Fonte: Do G1, em São Paulo
Ele é um homem dono de um corpanzil. Devido ao excesso de peso, anda com aquele leve balançar que os patos têm, com uma ligeira sugestão de que as pernas se cruzarão a cada passada. O rosto largo nas bochechas dá à face o aspecto de uma grande pêra. Os cabelos são ralos e sugerem uma recente e mal sucedida tentativa de implante. Em terras americanas, onde existe competição até entre bebês, se o tipo descrito não se destacou nas artes ou ciência, na vida profissional ou em qualquer outra coisa, é chamado de loser (perdedor).
Não só carrega a imagem do perdedor, ele é de fato. Aos 42 anos, carrega três casamentos fracassados e cinco empregos nos últimos dez anos. Neste último emprego é o que mais tempo tem permanecido, talvez porque precise viajar sempre e pouco se relacione com colegas. Mesmo com seu eterno mau humor, se percebe com sorte porque seus iguais estão quase todos desempregados e a crise só aumenta.
Viaja sempre em classe econômica, e está longe do personagem do George Clooney em Amor sem Escalas (Up in the air), filme que ele viu dezessete vezes. Faz o tipo descolado com milhões de milhas aéreas e namorando uma lindona a cada cidade que passa. É seu herói por quem nutre, ao mesmo tempo, um ódio visceral. Às vezes se permite fantasiar como se fosse o próprio Ryan (personagem de Clooney); a forma de puxar a maletinha, uma das mãos no bolso... Até que, inadvertidamente, passa por um espelho, uma coluna em aço escovado. Ali, diante de sua imagem, percebe todo seu ódio e frustração.
Como é um homem grande, passa aperto e fome no avião. Sem contar os olhares de reprovação e azedume daqueles com quem é forçado a viajar ao lado. Não é raro as pessoas pedirem para mudar de assento. Se o voo está cheio, delicia-se com o desespero do passageiro ao lado que espicha olhares para identificar uma saída da ratoeira que seu assento se tornou. Sem opção, restam ao infeliz a resignação e o encolher-se o que puder até o fim do voo. Ele ri silenciosamente. Dane-se.
Naquela viagem reencontrou uma aeromoça (detesto a expressão “comissárias de bordo”) que era sua musa desde muito tempo. Animou-se todo. Atreveu-se até ir ao banheiro não só para vê-la, mas para melhorar o visual e entupir-se de desodorante e asséptico bucal. Quando saiu, o ar foi empesteado pelo cheiro e ficou a vaga suspeita nas pessoas que ele tinha feito algo horrendo no banheiro, mas pelo menos foram poupados da inhaca.
Voltou e sentou novamente, tão à vontade que o aparelho estremeceu levemente para a esquerda onde estava. Logo começou o serviço de bordo. A aeromoça, robótica: Qual a bebida, senhor? Não era ela. E ele, decepcionado, demorou-se um segundo e a “simpática” já se adiantava ao próximo. De sopetão, pediu uma cerveja antes que passasse a chance. A aeromoça o deu com um saquinho de amendoins.
Nervoso, bebeu com sofreguidão enquanto batucava a caixinha de amendoins na mesinha. Pensou que aquele dia, por alguma razão, se declararia, puxaria conversa, jogaria uma piada, seria até um porco chauvinista, quem sabe, uma palmada na bunda. Não fez nada disso. Lembrou-se: o cigarro eletrônico. Não tem cheiro e a fumaça não incomoda. E mais. Ajudaria a acalmar-se.
Mas nestes tempos de um mundo miserável politicamente correto, teria sido preferível que tivesse dito alguma coisa chula à musa. Logo o passageiro do lado viu sua oportunidade de fugir de sua opressão. Chamou a aeromoça para reclamar do cigarro. Quem veio? A dita cuja. Senhor, as normas da agência nacional de aviação proibem o fumo nos voos. Apague o cigarro imediatamente. Foi um choque. Em sua fantasia ela se aproximaria dengosa, absolutamente embriagada por ele, não aquele sargentão.
Mas é um cigarro eletrônico... Não importa, senhor. Se o senhor não desligar o cigarro, chamarei a segurança. Não tem nicotina... Senhor, se acalme, o senhor está exaltado. Não estou. Baixe o tom de voz comigo, senhor. A mulher meteu a mão no bolso e ele percebeu: era spray de pimenta. Ao mesmo tempo os demais passageiros se remexiam assustados. Alguém disse: é um atentado. Gritos. Histeria. O avião entrou numa turbulência, o comandante pedia calma.
Desesperado com a loucura instalada, ele tentou levantar-se e acabou, sem querer, jogando os amendoins na cara da aeromoça, àquela altura tranformada de musa em dragão. Ela borrifou o spray de pimenta, não mais nele que ágil como uma lebre esquivou-se. Foi na cara do passageiro ao lado. Do nada, surgiram brutamontes da segurança e o imobilizaram com algemas e daí foi jogado num armário. No final do voo foi preso por tentativa de derrubar o avião, crime inafiançável e de segurança nacional.
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