A cidade espanhola de Hernani, no País Basco, lançou uma nova lei que já está sendo chamada "CSI Canino". A partir de agora, os cachorros terão de fazer testes de DNA e cada vez que um deles fizer cocô na rua, a polícia fará a identificação genética para encontrar o dono que não limpou a porcaria em via pública.
Fonte: De Madri para a BBC Brasil (Anelise Infante)
Boa tarde, senhor Paco. Somos da Correição de Fezes Caninas – CFC da prefeitura municipal e o senhor está sendo intimado a comparecer ao nosso escritório, pois há uma multa em nome de seu cachorro, quero dizer, em seu nome. Isso é uma pegadinha? Cadê a câmera escondida? Vai até o arbusto em frente da casa. Olha ao redor da árvore. Já sei, você está usando uma destas microcâmeras. O botão! Eu já vi isso antes. Põe o olho próximo ao botão, enquanto o homem recua desconfiado. Paco dá um tchauzinho para o botão que julga câmera. Não é o botão?
Então é a caneta, como eu não havia pensado antes. Vi propaganda dela na interenete. Pega a caneta do bolso do agente municipal. Este a toma de volta com um sopetão. Comporte-se senhor Paco, isto não é uma pegadinha. Saca uma carteira e mostra a identificação. Juan Xavier, agente da CFC.
Olhe aqui, não comparecerei ao CFC coisa nenhuma, ninguém pode provar nada e ademais, há muitos cães soltos pelas ruas desta cidade. Digo mais. Cocô de cachorro é tudo igual. Aí é que o senhor se engana, senhor Paco. Usamos alta tecnologia, somos uma agência de investigação sofisticada. Cada cocô tem uma marca genética. Seu cão defecou e a amostra testada é 99,99% exata. Foi seu cão. A propósito, ele está em casa, não ouvi latidos. Err... sim, sim, está. É educado e não late à toa. Olha por cima do ombro do agente à procura de Bibo.
Não mude de assunto, o senhor mesmo se denunciou. Há uma chance matemática de que meu cão não seja o autor da infração. E o 0,01%? Matemática é uma ciência exata, se não é 100%, há dúvida razoável pela inocência de meu cão. Senhor Paco, não existe dúvida razoável, pelo simples fato de que o teste não apontou nenhum outro cão da cidade e temos o perfil genético de todos. Mas pode haver erro. Quem me garante que um cão da cidade vizinha não tenha vindo aqui obrar o mal feito?
Temos um acordo com nossos vizinhos e eles não permitem que seus cães entrem em nossas fronteiras e nós não permitimos que os nossos invadam a deles, quem aqui vive, aqui caga. O senhor está baixando o nível, senhor agente. O senhor está importunando o meu trabalho, recusa-se a atender uma ordem e me fazendo explicar tolices. Sou cidadão, tenho direitos. E obrigações. Uma delas é juntar a bosta de seu cão na rua.
É bom que o senhor saiba que sou parte da Ong, “Deixe a bosta do meu cachorro em paz”. Já ouviu falar? Não senhor. Porque é um alienado. Estamos na internete e somos contra esta lei mesquinha e perseguidora. E ainda vamos fazer muito barulho. É por estas e por outras que vocês sofreram aquele atentado em seu escritório. E aviso, outros pacotes merdáceos serão lançados, agora em vocês. É uma ameaça? Não, um aviso.
Por que vocês não adotam a delação premiada, como na cidade vizinha? Já testamos. Vizinho inimigo delata o outro por vingança. E marcação com bandeirinha em cada cocô na rua, um censo. Sinaliza ao transeunte distraído e causa vergonha, porque por todo lugar se veria as bandeirinhas. Uma senhora processou a prefeitura porque sua porta foi excessivamente marcada e, como decidiu o juiz, configurou-se uma difamação, embora ela possua três gatos e cinco cachorros.
Eu não acredito em dna merdícola. A prefeitura quer nos extorquir com multas descabidas. Senhor, cada ser vivo evacua parte de seu dna em suas fezes. As suas, por exemplo, tem seu dna. Seu cão está em casa? Poderíamos tirar uma contra-prova. Acho que está. O senhor disse que estava. Está, está... Olha novamente ao redor em busca do cão. Não interessa se meu cão está ou não está. Tem mandado? O seio do meu lar é inviolável. Sei meus direitos, senhor agente.
Quero ajudá-lo, a contra-prova tiraria qualquer dúvida e provaria a exatidão e eficiência de nossa técnica. Não falsificamos titica, senhor. Estou perdendo meu tempo. Seu cão é o culpado e se o senhor não comparecer, a multa será emitida mesmo assim. Devo dizer-lhe ainda que a multa é maior pelas repetidas vezes que seu cão defecou na via pública e pela quantidade. O que o senhor dá para este pobre animal comer?
Juan olha ao lado e empalidece. Bibo!!! O agente, ainda assustado, volta-se a tempo de ver Bibo na posição característica, o olhar pidão esbugalhado, a orelha murcha, soltando um barro na rua. Juan, ainda no susto. O senhor gostaria de tirar a contra-prova agora?
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