sábado, 19 de fevereiro de 2011

Bravura Indômita

Lembro muito pouco da primeira versão de Bravura Indômita, 1969. Nunca assisti ao filme do começo ao fim, sempre pego o bonde andando quando passa em algum canal especializado da tv paga. Falta-me, portanto, dados para comparar a performance dramática dos atores e a leitura dada pelo diretor Henry Hathaway e este novo filme dos irmãos Cohen.
        A história de uma vingança é pouco para definir este filme. Cada olhar dos espectadores terá, certamente, uma versão própria de compreensão. Penso que o filme fala do desejo de justiça. Vive-se num mundo selvagem, estamos num faroeste, na fronteira entre a civilidade e a barbárie. Entretanto, as falas dos personagens não cansam de repetir, a captura do facínora tem o objetivo de levá-lo ao juiz, a representação máxima da lei. Ele saberá a punição adequada que, naquele contexto, seria a forca.
O principal da trama acontece num espaço árido, do outro lado do rio. A metáfora é clara. O rio separa a civilização da terra de ninguém. É onde o personagem perseguido refugia-se entre um bando de foras da lei num território indígena, lugar perigoso e onde não se devia ir. De algum modo, a frágil existência da sociedade, das relações, dependem de que a lei e a justiça se realizem, mesmo em lugar tão inóspito. A existência social humana e sua preservação, tal como a conhecemos, não pode suportar que haja qualquer lugar de refúgio ao mal.
        A garota pode muito bem representar a todos nós quando nos sentimos vilipendiados, injustiçados e desrespeitados em nossos direitos. Sua aparente fragilidade – tem apenas 14 anos –, também nos representa. Porém, tanto nela como em nós, há escondida em algum lugar, uma coragem, penso, e só a conheceremos quando nos lançarmos na busca pela realização do nosso desejo. É possível, sim, quase certo, que esta busca nos leve a terrenos cada vez mais hostis e distantes, mas é aí que nos conheceremos  e nos definiremos.
Como ela demonstra, não basta apenas delegar a outros o cumprimento da lei, é preciso estar lá e ver e ser partícipe.
        Os dois personagens, o marshal (Jef Bridges) e o ranger texano (Matt Damon) representam faces da lei. O ranger é o legalista, o certinho. O outro é o realista, o prático, aquele que guarda valores legais, mas usará o que for preciso para que a justiça se cumpra. Em quem a menina confia? Boa parte da história ela oscila entre os dois que se estocam o tempo inteiro, cada qual tentando demonstrar sua habilidade. Ambos são valorosos em seu trabalho, mas é aquele que está presente, aquele que irá com ela até à beira da morte de quem ela guardará um amor e gratidão eternos. O marshal é um solitário, um homem bruto, sem arrodeios, mas é quem estará emocionalmente mais próximo da garota. Suportará seus rompantes, se irmanará em seu desejo, aceitará sua forma de ser tal qual ela é.
        A vida passa. Ela pagará um preço pelo seu desejo de justiça. Nada é gratuito ou sem consequência na vida. Mas jamais saberemos quem somos se não formos até o fim.

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