O presidente Lula passou o ano inteiro se despedindo dos oito anos de mandato. Celebrações, homenagens, inaugurações (até do que não estava finalizado), discursos, choro e outros rapapés ficaram amiúde no último mês. Ganhou tom de saudade desesperada nos últimos quinze dias. A última semana, entretanto, a coisa toda tomou ares de fim de mundo. Esta coluna teve acesso a partes de um discurso (mais um). O que não estava legível e audível, deixamos a criatividade preencher, não sem sólida referência à realidade, pois há sobejo material sobre o tema na internete.
A sala ficou em silêncio respeitoso de repente. Um companheiro, que fazia as vezes de mestre de cerimônias, acabara de anunciar que Lula iria falar. Pouco antes, ele ria com um, fazia chacota com outro, até fez chifrinho na cabeça de um ministro na hora de uma foto. A festa era descontraída. Uma das 453 despedidas que participou somente nos últimos três meses.
Ele parou por segundos olhando a companheirada que aguardava em suspense um suspiro que fosse. Aqui entre vocês, minha gente, estou como pinto no lixo. Oooooohhhh! Aqui posso até dizer “menas”, “probrema” e vocês nem vão reparar. Vocês me compreendem, sou um homem com alma de povo. Alguém, um companheiro mais estudado, não por maldade, por xiste, cochichou ao ouvido de outro completando a frase: “com alma de povo... analfabeto.” Riram discretamente, não sem os resmungos reprovadores dos demais que olhavam súplices seu líder à espera de sua fala vital, vitaminada, alentadora.
Não sei que diga... todos riram e ele se deu conta que tinha feito uma piada involuntária. Dói aqui, apontou para o coração. Aquilo invadiu como uma onda. Lágrimas minaram em canto de olhos que os mais brutos enxugaram com a costa das mãos. Os mais finos, como a companheira Marta, delicadamente, com seu lencinho de seda, que apenas tocou a pele. Outros deixaram a cara ser lavada, queriam mesmo era se lambuzar no choro. Mas já que era tudo descontraído, longe dos olhos de todos, um gaiato ensaiou uma graça e perguntou se a dor era por causa do Corinthians que chegou ao centenário “cem” título.
Uns riram, outros ignoraram a falta de sentimento do incréu. E Lula, minimizando: também por isso companheiro, mas dói porque chegamos ao final. Parou. Fez biquinho e logo enfiava o dedão no olho para aparar a lágrima que escorria. Os companheiros seguiram o choro. Recompôs-se e disse que não abandonaria a luta, continuaria andando por este país, trabalhando pelo povo. No próximo ano vou dirigir uma ONG para beneficiar o povo. Tenho muita sorte. Deus olhou lá de cima e disse: este é o cara! Só depois o Obama falou, então eu já sabia. Romário usou esta frase por que é metido. Até perdoaria se tivesse jogado no curintians, mas no flamengo...?
Tô pensando em 2014. Não se preocupa Dilma! Tô pensando como é que vou fazer campanha pra você. Entre nós posso dizer, nuncaantesnestepaís se viu o que está acontecendo agora. Um presidente, EU, com tamanha popularidade. Me perguntam: e aí, Lula, vai voltar? Não to loco, respondo. Sorte como esta não se repete. Vou queimar meu filme. Mas que dá vontade, isso dá. Volta Lula! Gritou um entusiasmado. Desculpa Dilma. Não leva em consideração a maldade da imprensa que diz que tu vai só esquentar a poltrona.
Acho que vou viajar. Vô visitar o Chavez – talvez não, ele é muito chato. Descansar com Fidelito em Varadero. Não, vô militar por causas universais. Quero dizer, do universo mesmo, quem sabe implantar um bolsa família pros americanos, tão pensando, os coitados tão mal. Obrigado, companheiros, pelo batismo com meu nome no poço de petróleo. FHC vai se morder. Não quero mais a ONU, mas se vocês quiserem me indicar pra prêmio Nobel da paz, tudo bem. Vô fazer política de qualquer jeito. É só o que sei fazer. Vô ajudar a Dilma. Dilma se remexeu na cadeira. Sorriu amarelo. (choro). Biquinho e choro de novo. Até daqui a pouco companheiros. (mais choro, sem biquinho). Com esforço. Feliz 2011!
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