segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ciber-amazonas

Um centro de empregos do governo na Inglaterra está à procura de mulheres lutadoras que não se importam em vestir biquíni e rolar na lama.
O anúncio foi postado no começo do mês no site do governo e afirma que não se trata de pornografia. As lutadores de biquíni ficarão na lama enquanto câmeras filmam a batalha para um público VIP, que paga para ver o espetáculo pela internet.

Fonte: Do G1, em São Paulo

Estrogilda é dessas meninas antenadas com as mundanidades das muitas subculturas que hoje fazem moda e infestam a internete. Deve ter uns dez perfis em sites de relacionamento diferentes. Sabe tudo sobre vampiros da saga Crepúsculo. É catedrática em Harry Potter, embora este já tenha ganhado cara de algo out. Quando Rick Martin confessou o que o mundo inteiro sabia, ela chorou, nem tanto porque não soubesse, mas porque gostava de se enganar. Se ele não falasse por aquela boca linda, disse entre lágrimas, eu continuaria xonada. Ai, que desperdício!
Vê-se que o prefixo “estro” no nome deve remeter a excesso de estrógeno. Mas esta é piada óbvia.  Desconfio que há outra justificativa. Estrogilda tem 29 anos incompletos há pelo menos quatro anos e até agora nenhum namorado para dar conta daquele corpanzil manequim 52. Não tanto pelo perfil avantajado, ela também tem a desdita de ter uma estética facial descompensada.
Metade da vida, Gilda gasta na frente da internete, a outra metade detonando os ouvidos com Lady Gaga. Tem dois ipods genéricos. Não tira do ouvido nem para dormir. Quando um acaba a bateria, o outro, já recarregado, entre em ação. Daí que, se for falar com Gilda, aviso, eleve o volume um pouquinho.
Gilda ainda mora com os pais. Mal terminou o ensino médio. Depois disso, iniciou uns três cursos diferentes, mas desistiu porque diz que a cabeça dela não dá para estas coisas. Quando perguntada sobre o que está fazendo profissionalmente, diz que está procurando um trabalho que atenda ao seu currículo especial. Alega que por aqui está difícil pelas opções atrasadas que o mercado oferece, como balconista de loja, o que, para ela, é um horror.
Esta semana nos encontramos e Gilda estava incrivelmente animada. Lera em qualquer lugar do mundo virtual, num site de notícias bizarras, que no serviço de empregos inglês havia oportunidades para garotas. Coisa simples e não precisava de conhecimento especializado. As meninas, de biquíni, devem estar dispostas a entrar num ringue cheio de lama e lutar. Pagam até 40 reais por hora. Perguntei, assim por longe, se não havia alguma exigência estética. Gilda fingiu que não ouviu. Vai ser a mais nova musa da luta na lama e pronto.
Sacou da bolsa uma página de internete, já amarrotada de tanto manuseio. Abaixo do texto em inglês, estava uma tradução escrita à mão pela própria. Leu-a em voz alta para mim. “Procuramos por mulheres animadas e confiantes para fazer parte de lutas na lama com transmissão paga pela internet. Isto não é pornografia, mas entretenimento. Flexibilidade de horário e transporte são oferecidos para o trabalho. As candidatas devem apresentar confiança na frente das câmeras, ter personalidade e boa aparência, e, obviamente, não se importar em sujar a cabeça de lama.”
Ouvi pasmo. Mas você sabe inglês? Perguntei. E quem disse que preciso falar, respondeu. Agora, olha pra mim e me diz se isso não é a minha cara. Sapecou a foto na minha fuça. Eram suas mulheres agarradas, indistintas por estarem dentro de uma piscina de lama. Respondi sem convicção: é... Sou animada, confiante, câmera é comigo mesmo e boa aparência é o que não me falta. A lama? É só um detalhe. Nunca houve uma mulher como Gilda.

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