Uma pomba branca que estaria espionando a serviço do Paquistão foi capturada na Índia e está sendo vigiada por agentes armados, informou nesta sexta-feira a imprensa indiana.
A ave foi encontrada por um morador de Punjab, na fronteira com o Paquistão, e levada para a delegacia. A pomba tinha um anel em torno de um dos pés e um número de telefone e endereço paquistanês pintados em vermelho.
A polícia acredita que a pomba pode ter sido enviada do Paquistão para a Índia com uma mensagem, embora nada tenha sido encontrado.
Fonte: France Presse
Prezado Brahman,
Esta tarde fui procurado por um camponês do Punjab com um achado alarmante. Trata-se de um animal de aparência inocente, mas que na verdade esconde uma pérfida ação de nosso inimigo islamita. É uma ave, símbolo da paz para os ocidentais. Adivinhou se pensou numa pomba e ainda por cima branca. O animal carregava um anel pintado de vermelho numa das patas, inscrito um número de telefone e endereço paquistaneses. Tratei imediatamente de, em nome do Estado, confisquei do tal camponês com quem ainda tive séria divergência. Um falso crente do hinduísmo, por suposto, pois me colocou numa sinuca de bico. Ou eu pagava pelo achado – que considero da maior importância – ou ele comia a pomba. Prometi recompensá-lo – fiz bem? – de modo que o serviço secreto lhe deve algumas rúpias. Peço-lhe que quando me responda autorize o pagamento do nosso camponês patriota.
Seu criado, Ganesha
Prezado Ganesha,
A descoberta enseja medidas urgentes e apropriadas, pois contra os patifes paquistaneses todo cuidado é pouco. Pois quem haveria de desconfiar de uma pombinha? Mantenha a ave sob custódia restritíssima até que se descubra a mensagem secreta que leva e quem a recebeu, pois com certeza está infiltrado entre esta quinta coluna islamita que empesteia nosso Punjab. Não passou despercebido para mim, especialista nas tramas paquistanesas, a cor do anel metálico. Trata-se de sangue que será derramado por algum artefato metálico, não resta dúvida. Quanto ao número telefônico e endereço, não se engane, também esconde alguma mensagem. Você, por acaso, ligou para o número? Com certeza descobrirá algo. Continue vigilante.
Seu chefe, Brahman
Amigo Brahman,
Estou mais vigilante do que nunca. Inclusive determinei dois dos melhores policiais para vigiá-la dia e noite. Pedi a um veterinário local, embora seja especialista em vacas, que olhasse a tal pomba maléfica. Como o senhor sabe, poderia trazer algo escondido no intestino, à maneira dos traficantes. Nada foi encontrado ainda. Por enquanto, a pomba goza de saúde, é alimentada duas vezes por dia e está no ar-condicionado para melhor cuidar de sua integridade. Está, entretanto, incomunicável. Visitas estão proibidas, inclusive íntimas. E quanto ao dinheiro do camponês? Ele tem sido um estorvo. Vêm todos os dias à delegacia. Na última vez, teve a petulância de dizer que dará a informação aos paquistaneses. Ameacei prendê-lo e defendi sua honra, pois havia prometido o dinheiro em seu nome.
Seu servo, Ganesha
Caro Ganesha,
Vejo que este camponês é atrevido. Não se descuide dele, deve ter algo a ver com esta história sórdida. Quem sabe a pomba não está transmitindo mensagens aos inimigos? Nunca se sabe. Sobre o dinheiro, diga que espere notícias aqui da central. Encaminhei sua petição ao nosso superior, estou no aguardo. Sobre a mensagem no anel columbídeo deve haver coordenadas para infligir algum tipo de prejuízo para nosso país. Não esqueça que os antigos portugueses, invasores de nossa terra, que inclusive usaram como desculpa para descobrir o Brasil, tinham a palavra pombo como sinônimo para ardil e mentira. Aí está o nó da questão. A própria pomba é a mensagem, diria mais ou menos Macluhan.
Seu chefe, Brahman
Ilmo Chefe, Brahman,
Estou embevecido por tamanha sabedoria e perspicácia. A pomba é a mensagem, estou agora mais que certo. Espiã, melhor dizendo. Pergunto. Por que não tentou fugir? Enganar um de meus carcereiros? – se bem que não conseguiria, eles são incorruptíveis. Durante o interrogatório não deu um pio, se é que me entende. Um arrulhozinho de nada. Apenas me encarava com sua cara disfarçada de falsa inocência, como se eu fosse besta. Mas é questão de tempo para ela abrir o bico. Já contratei um gato para a próxima inquirição. Perdoe-me se o importuno. Mas e o caso do pagamento do camponês? Hoje voltou à carga com a cobrança e está tumultuando a delegacia. Temo que entregue esta grande operação aos paquistaneses.
Seu devotado servidor, Ganesha
Ó devotado compatriota,
Eu o parabenizo pela dedicação e iniciativa, eu mesmo não faria melhor. Porém, serviços paralelos de nossa briosa organização dão conta de que a pomba não se comunicou com ninguém em nosso território. Há teorias de que seja apenas um bicho desgarrado de algum infiel do outro lado da fronteira, embora eu desconfie, como você, que a coisa não seja tão simples assim. Em todo caso, nosso superior manda expressamente que a pomba seja solta. Sugiro que uns meninos estejam esperando com baladeiras na hora da soltura, uma maldade com o infiel do outro lado pegaria bem. Mas eu não disse nada, entendeu? Quanto ao camponês, este infortunado, sugiro que o prenda na próxima cobrança, além de estar envergonhando e desonrando nossa gloriosa força, pode ser um espião perigoso. Prenda-o em nome da segurança nacional da sempiterna nação indiana.
O chefe Brahman.
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