Não basta ser evangélico, protestante ou coisa que o valha, tem que fazer propaganda. Antigamente isso tinha a ver com testemunho, princípios morais, ética, simplicidade e até com certa reserva pessoal. Hoje, quanto mais espalhafatoso, melhor. Claro que o estereótipo compõe mais que etiquetar o carro com frases feitas que traduzem a ufania própria de vencedores e até uma intimidade que beira o desrespeito com Deus.
Este neo-crente fala uma linguagem própria, consome produtos e, portanto, alimenta uma bem fornida indústria de badulaques kosher feitos sob medida. Um detalhe é característico deste fenômeno: a proliferação de denominações. Antes se ouvia algum tipo de tentativa de justificar as diferentes igrejas exemplificando com a famosa discussão entre Paulo e Barnabé a respeito do discípulo João Marcos ou ainda pelas multiformes compreensões da Graça. Os mais simpáticos afirmavam: no essencial, porém, somos todos parte da mesma herança. Seja lá o que se entendia por “essencial”. Hoje, entretanto, a multiplicidade de igrejas é diretamente proporcional à perecença que elas tem entre si, muda apenas a idiossincrasia do bispo, profeta ou apóstolo fundador da denominação e o tal fator essencial que os une, neste caso, é só dinheiro. Um paetêzinho teológico aqui outro ali, ajuda na diferenciação, mas isso só a lupa.
Os católicos, numa contramedida, adoram estampar suas marquinhas próprias nos carros também. Uma das frases mais populares é: “Sou feliz por ser católico”. Que seja, mas esse dizer parece querer responder a um outro suposto “ser feliz” de suas contrapartes crentes que, por seu lado, afirmam uma felicidade pelo simples fato de serem não-católicos, além de que são alvo de milagres e maravilhas de todo tipo pela relação privilegiada com Jesus. Eu também ficaria feliz. O difícil de explicar de um lado e de outro que, afinal, são cristãos, portanto bebem do mesmo rio escriturístico, é que a felicidade não parece ser exatamente o fim último daquele que segue a Cristo. Paulo, escrevendo aos filipenses, nos dá uma pista: “...aprendi a estar satisfeito com o que tenho.
Sei o que é estar necessitado e sei também o que é ter mais do que é preciso. Aprendi o segredo de me sentir contente em todo lugar e em qualquer situação, quer esteja alimentado ou com fome, quer tenha muito ou tenha pouco.
Com a força que Cristo me dá, posso enfrentar qualquer situação.” (Fp 4.11-13)
Assim, deparo-me nas ruas com expressões fé-na-coisa, em reluzentes carros-outdoor, como “Foi Jesus quem me deu” e, para meu espanto, um “Sou dizimista” em três cores diferentes no vidro traseiro do carro. As duas não parecem revelar uma fé no Senhor da Graça, mas na própria capacidade de ser abençoado. Afinal, a fé não passa mais do que uma reles troca de serviços, escambo celestial nestas novas hermenêuticas escalafobéticas.
Por outro lado, vão se desmilinguindo ou desbotando, frases que eram populares até pouco tempo atrás. O indefectível “Deus é fiel” e o hilário “Propriedade exclusiva de Jesus”. O primeiro, talvez, por anódino e sem sal da afirmação, pois a nada remete. O segundo por que, por mais que não se queira, coloca o proprietário do “possante” na incômoda situação de algo que mesmo longe evoca compromisso, penso.
Igrejas-fakes e fiéis (crentes) histriônicos, é disso que se faz este novo cristianismo, ambos anêmicos da Palavra substituída que foi ou manipulada que é dos modos mais escusos, capaz de justificar coisas que até o tinhoso duvida.
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