domingo, 6 de setembro de 2009

O deus deles é o ventre ou os Moloks modernos

“O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas.” (Filipenses 3:19)
“...porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos.” (Romanos 16:18)
O deus deles é o ventre. São ensimesmados. O mundo inteiro converge para si. São iluminados pela própria esperteza escolada nas ruas, nos becos e nas fraquezas daqueles a quem devoram. Não comem arroz, feijão e ovo frito, são gourmets da malícia. Desejam prazeres sofisticados, vinhos envelhecidos, jamons de sete anos. Tem olhos sequiosos por tudo que lhes apeteça. Buscam mentes tolas à quais desvirginam com verdades secretas infalíveis e escravizantes.
Olham-se no espelho para alinhar as medidas de roupas milimetricamente caídas em seus corpos. Mordem os lábios de prazer ao ver carne humana exposta em tolas buscas pelas ruas e avenidas iluminadas, shoppings fosforescentes, que encantam e hipnotizam. Jogam pães às massas que correm ávidas. Comem e nunca se saciam. É pão levedado, causa dependência.
Sua glória alimenta-se de infâmia a qual dão novos nomes indecifráveis. Esquecem-se tanto de si, num abandono febril que tão somente é a indulgência com o mais vil que carregam como se fossem jóias. Não tem vergonha de nada, justificam com a palavra sagrada que sabem com hermenêuticas cozinhadas com esterco. Chamam-na para testemunha de suas façanhas milagreiras. Procusteiam a verdade para caber dentro de suas lógicas mofadas. Galanteiam a mentira com maquiagem colorida.
São forças telúricas. Arrancam força da terra, pesam milhares de gravidades de buracos negros, entortam o tempo e luz onde se assentam. Deles nada sai, apenas comem com sofreguidão sem dar nada em troca, exceto os gritos lancinantes dos devorados que lhes estendem clamores de piedade ou que lhes dê mais dos prazeres esfarrapados. Coçarão até ficar em carne viva, depois lhes negarão os ungüentos.
Suas línguas são mestres em lisonjas. E como agrada-nos que nos estapeiem com palavras deleitáveis, mesmo que se riem mal disfarçando com a mão na boca. Falam “Deus”, embora no secreto de suas mentes a nada se lhes remete a palavra. Não tem raiva de Deus nem alegria, não sabem se existe ou se é uma abstração. É algo que atrai pessoas. Palavra feromônica que remete aos instintos de sobrevivência, de encontro e de salvação, atrai irresistivelmente como lamparina às mariposas até que se imolam no brilho. Aqueles aceitam qualquer um que lhes diga “Deus”, tal o desamparo em que vivem. Deus é um abracadabra.
Eles subjugam almas incautas, destroem seus corpos com a promessa de um paraíso. São os nossos  Moloks modernos à espreita nas esquinas. Que mais dá o corpo que será destruído na morte? Deus não gosta de corpo, gosta de almas, dizem. Dão comida engordurada e com o tempo os devotados vão se tornando um enorme ventre insaciável, movidos vida adentro apenas pela tara da satisfação.
Negam que o corpo é para o Senhor e que o Senhor é para o corpo. Esta relação com um Deus que se encarna é muito complicada, falemos menos disso que é menor, sussurram. Importa a glória do reino nosso de cada dia. Mas corpos não vibram com carne, fremem com misericórdia e graça, acordes que lhes dão música.
Imagem: Ilustração do deus cananita Molok (2 Reis 23.10)

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