quinta-feira, 16 de julho de 2009

Um twitter inteiro é pouco


Eu não caibo em 140 caracteres. Sou prolixo, que fazer? Nem tentei a experiência tão em moda: dizer coisas no twitter, deixar recados, comunicar-me com um mundo virtual, por que mesmo que tivesse centenas de seguidores, pergunto-me, eles o fariam por quê? Que tenho a dizer de tão importante que em 140 caracteres convença, anime, desperte o interesse de quem quer que seja? Eu os mataria de tédio. Não, as coisas me parecem tão complexas, tão cheias de detalhes e nuances que dizê-las em tão pouco é, na verdade, desdizê-las, desconstruí-las em notas taquigráficas que lhes carcomeriam o sentido.

Aqui já me percebo outra deficiência. Não entendo o sintético, especialmente aquele que sofre de rapidez imposta, de uma pressa afobada em nome de valores tão presentes, que tão somente evocam imagens, quando muito, mas tão difusas que apenas entendemos de contornos, no que nos tornamos especialistas. E as cores? E as sombras? Tenho dificuldades com silhuetas.

Como resumir dores, alegrias e contentamento por nada, por exemplo, aqueles nascidos em certas conjunções aleatórias que incluem doses extras disponíveis de serotonina vagantes nas sinapses, um céu absurdamente azul, uma manhã iluminada com um esbanjamento desmedido e uma brisa fresca? Que palavras são suficientes ou tão inteiras que resumam este alumbramento de forma tão cabal?

E aqui me surge outra dificuldade, com as palavras. Qual delas escolher daquelas que arranhariam o sentido maior daquele êxtase? Isso se falo apenas na alegria, mas se falo de males que nos roem o peito? Ora, elas só funcionam em conjunto, em alegre convescote de sentidos a brincar de roda que, juntas, indicam novos significados que só a metáfora pode dar conta.

Eu me atrapalho com a língua virtual que devora letras, subverte palavras em monstros toscos e onomatopéias duvidosas que se parecem a mim como esgares de quem tem uma terrível dor abdominal. Não só as desconheço, sou ajé em colocá-las tão rápido quanto demanda meu interlocutor, que não pensa rápido como poderia sugerir, pensa em imagens pintadas por letras de um alfabeto no qual sou incompetente – falo dos meios de comunicação instantânea, mensenger e iguais.

O risco é calculado, o de ser pensado como um pedante, falso sofisticado que deseja impressionar. Vá lá, que seja. Por outro lado não revelo uma cisma atávica com a tecnologia, da qual até gosto, pois se tem algo bom nela é a esta Babel de aceitação do tosco e do escolado. Isto também é intencional. Revelo sim, uma incompatibilidade com o frugal e fugaz, embora goste do primeiro, revelo-me teimoso com o segundo, porque a cada ato penso permanecer como algo irrepetível, uma pegada fossilizada num chão ao qual não voltarei, porque o tempo, este terá escorrido irremediavelmente, mas se há algo que ele não consegue apagar é o feito, o existido de algum modo marcante. Quem deseja apenas a fugacidade de ser um perfume que desmancha no ar? Queremos a definição pétrea do mármore. Queremos ser marmorizados.

Nisso revelo minha enorme dificuldade em lidar com o tempo em perspectiva que só se concretiza para mim à medida que deixo pedacinhos de pão para poder voltar aos lugares em que deixei partes de mim e aos quais desejo voltar de algum modo, mas, você sabe, as aves do céu comem os pães, e assim nunca consigo voltar quando desejo e se logro fazê-lo, este de mim deixado em algum lugar me é estranho e desconhecido.

Tenho mania de caminhar em pegadas conhecidas. Perdi a coragem da ignorância, esta a tenho guardada em mim de outros modos. Mas a coragem de partir, essa perdi. O que me circunscreve a um horizonte curto, mediado por cada dia aos quais chamo de futuro.

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