quarta-feira, 22 de julho de 2009

Sorrir é o melhor remédio?


Uma empresa ferroviária japonesa está usando um novo método para checar se seus funcionários estão sorrindo sempre. A companhia instalou máquinas especiais em 15 estações de Tóquio que medem, através de um sistema de computador, a curvatura do sorriso.

Os trabalhadores que não tiverem um sorriso adequado vão ser advertidos que devem ser menos sérios e mais simpáticos.

Fonte: BBC Brasil

Os funcionários se espremiam no espaço exíguo. O chefe quisera assim. A imprensa rondava e eles estavam sob fogo cerrado dos clientes, do governo e até dos costumeiros surfistas ferroviários - o cúmulo, os caras reivindicavam melhores condições para exercerem seu, digamos, esporte. O chefe foi direto: estamos ameaçados de perder a concessão na linha. Se perdermos, está todo mundo no oco da rua.

A cultura de nossa empresa precisa mudar. Foi muxoxo para todo lado. Calma, pessoal. Contratamos um grande especialista, dr. Landrózio. Ele está acostumado a mudar a cultura de empresas e é disso que se trata nosso caso. Ou mudamos ou dançamos, quero dizer, perdemos a prestação do serviço.

Por favor, dr. Landrózio. Muito bem. Acabo de chegar do Japão. Lugar onde os serviços públicos são tratados quase como segurança nacional. O concessionário por lá ganha bem, mas tem que tratar o cliente no tapete vermelho. O segredo? Sorrir o tempo todo. Num é sorriso meia boca, é riso farto, acolhedor. Aí foi que o alvoroçamento do povo aumentou. Uma sujeita com a cara encardida de maquiagem disse logo: eu mêrma num sô paga pra rir pra seu ninga. Eu tenho é que fazê meu serviço. E qual é seu serviço, senhora? Limpeza. Outro fez coro. Ganhamo pouco e ainda temo que ficar mostrando os dente pra essa cambada? Vai esperando. O senhor faz o quê? Fiscalizo.

Olha pessoal, sei que vocês estão acostumados com uma forma de trabalhar, mas nossa empresa está sob pressão. Esta imprensa sacana denunciou a gente por que alguns dos colegas de vocês foram um pouco mais persuasivos com o pessoal que não entra no trem. Todos riram. Só por causa de umas cacetadinhas? Pior foi no Rio. Pois é, povo mofino este. Mas o fato é que embolachar os cliente não pode mais. Agora é por favor, senhor, senhora, por obséquio e coisa do tipo.

A coisa caminhava para a balbúrdia. Dr. Landrózio interveio. É o seguinte, ou vocês riem ou perdem o emprego. Instalaremos um sistema de vigilância do sorriso. Várias câmeras vão fiscalizar os colaboradores e quem não estiver rindo, está fora. O silêncio foi sepulcral. Para treinar, trouxe do Japão o mestre K. Gao que vai ensinar a doutrina do riso e vamos começar agora.

Num precisa, num precisa, atalhou um dos líderes. Vamo todos rir, né pessoal? É isso aí! Valeu! Só o nome do mestre já dá pra rir uma semana. Ok, pessoal, então posso ficar despreocupado? Na boa, chefe. Olha que o sistema vai monitorar todo mundo.

Semana seguinte, os passageiros estranharam a nova. Era um tal de atendente sorridente, fiscal gracioso, segurança risonho. Vazou que eles agiam assim por causa das câmeras. O povo foi à forra. E aí seu filho da p. me vende logo esta passagem. E o cara lá, rindo. Vem cá, seu fiscal de m. E o sujeito de dente na fresca. O cara pensava em retrucar como nos velhos tempos, mas aí, o olho eletrônico nem piscava. Resolveram devolver rindo, mas não era a mesma coisa e assim aconteceu a primeira greve na empresa: a negação do riso, até o forçado.

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