domingo, 19 de julho de 2009

Deus estranho


“Muitas coisas me valem quando Deus fica estranho e do que é mínimo, às vezes, vem o desejado consolo”.

Deparei-me com esta frase da Adélia na poesia “Folhinha” do livro “Coração Disparado”. E isso justo num momento em que Deus, para mim, está mais que estranho. Falo isso, mas no mesmo ato em que os neurônios trocam sinapses algo vem e diz: já te ocorreu que o estranho aqui é tu mesmo? E penso isso porque, explico para mim, quem se torna estranho verá o outro de forma estranha. No que concordo meio a contragosto. Mas tenho contra-argumentos e digo. Sim, mas há que buscar porque me estranhei. Desconheci Deus. Pelo menos aquele que me pareceu familiar durante tanto tempo. Ocorre-me que foi um Deus aprendido. De leituras com hermenêuticas pré-cozidas em fogões de outros. É isso. Ele sempre foi o que disseram dele para mim e o que li nas páginas da Bíblia, mas que de algum modo me havia sido dito antes, como uma história que sabemos o fim.

Acrescentei “descobertas” de coisas e formas de como Deus funciona. Disse a outros, ora com convicção, ora em dúvida porque me perguntava como falava de algo sobre o qual não experienciei e a última pessoa que conheço que atesta ter vivido isto morreu há pelo menos 3 mil anos? Os ouvintes perceberam a hesitação, por isso aquelas caras sem expressão. Não entendiam. E se a tal experiência dele é única e não há como revivê-la? Atemo-nos ao princípio, não ao fato tal como aconteceu, respondo. Que seja. Quero então conhecer sob as condições de temperatura e pressão do hoje.

Ao contrário da poetisa, meus olhos se perdem em grandes coisas e não vejo o mínimo donde posso achar um necessário consolo. Até o ipê que me desperta sentimentos de alumbramento quando floresce, este ano deu meia copa de flores. Carrego o desamparo e a desconfiança. Tenho dificuldade de lembrar seus feitos gloriosos que não vi e não me satisfaz os mares partidos, as pragas que subjugaram inimigos, nem carruagens de fogo arrebatando gente viva no meio do caminho.

Até corro o risco do mal entendido, mas basta dar glória em meio à angústia porque se está vivo e a comida não faltou à mesa? Banalizo a dádiva? Apequeno a bênção? Quero comer sentidos. Quero beber palavras para encaixar nos desvãos da alma desorientada. A comida e a bebida irão, depois, para lugares escusos, quero o que se incorporará ao que é eterno em mim.

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