Indianos de um vilarejo no norte do país realizaram um casamento de sapos.
Como reza a lenda na Índia, a união entre sapos agrada o deus da chuva, que em retribuição envia nuvens carregadas para regar as plantações afetadas pela seca.
A cerimônia foi assistida por vários convidados e foi realizada por um sacerdote. A noiva foi presenteada com um colar dourado.
Fonte: BBC Brasil
Aquilo era um acinte. Nem tanto pelo acontecido, coisa comum em qualquer grupo social, mas pelo motivo. Soube-se na comunidade batráquia maranhense – vejam só o que é a globalização da comunicação –, que na Índia, país remoto e exótico, não menos que a terra tupinambá igualmente longínqua e estranha, do casamento de dois sapos, quero dizer, um sapo e uma sapa, a contragosto de ambos, apenas para que chovesse.
Os perpetradores desta inominável arbitrariedade foram humanos, raça dada a desmandos, desde que certas coisas lhes dêem na telha e sirvam a seus propósitos malévolos. Onde já se viu obrigar membros de outra espécie a se casarem forçados, apenas para obter uns reles pingos de chuva e agradar um deusinho qualquer que tem algum distúrbio voyerístico com sapos? E os sentimentos alheios não contam? Claro, fazem estas coisas com membros de castas menores, nem precisa ser um dalit, qualquer um, desde que esteja à mão.
Barruan, um sapo maranhense metido a regueiro, que há muito pensava pular fora do que julgava um casamento desconfortável com sua digna esposa, naturalmente também sapa, a senhora Maya, viu aí uma oportunidade. Pensou ele. Ora, se lá na Índia casaram os seus contraparentes para obter chuva, é de se pensar que um divórcio diminua as monções diluvianas a que está submetido nosso desaquinhoado lugar.
Não que a água lhe fosse problema, mas até um sapo sabe ser solidário, ainda mais se isso lhe rende um dividendo pessoal. Coisa de sapo. Os pobres humanos, afinal, estavam a morrer afogados, tal era o volume de água que lhe caía no cocoruto. A verdade, porém, diziam a boca miúda, há tempos lançava olhares luxuriosos para uma perereca maguinha do Sá Viana que, faceira, dava bola, mas não confiança.
Maya saltou lá longe com aquela conversa fiada de ajudar humanos, pobrezinhos. Que jinongonongo é esse, Barruan? Pois os humanos que se virem. Que que tem a ver nosso casamento com o aguaceiro? Assim, de chofre, nada. E de mais a mais, só pode valer se humanos fizerem o descasamento e em nossa comunidade isso é impossível, porque há que ter um motivo forte para uma separação. Minha mimosa anfíbia, isso se arranja, dar nó em leis e regras é com os humanos mesmo, aliás, este nosso lugar tem nome de Maranhão por causa das maranhas e patranhas, vale mais a vontade irresistível de quem manda do que qualquer aparato legal. Mais, eles precisam que as chuvas parem ou vão tudo para o brejo, conosco. Não consta que gostem muito de nossa companhia pegajosa.
Olha, Barruan, seu safado, não adianta balançar estes tererês para mim com esse olhar pidão, sei bem de tuas malandragens e que aprendeste lá pelas bandas da Lagoa. Comigo não, meu filho! Como ficam nossos girinos? A pensão tem que ser gorda, nego. Digo mais, o apartamento é meu, o riquixá é meu, porque não vou ficar sem nada. Que piração é essa, tu és uma sapa – não me leve a mal – que história é essa de apartamento, pensão... Comeste mosca estragada? Meu anuro fofo zoiudo, aprendi com os humanos a quem você quer ajudar. Se tu queres te reger pelas regras deles, então... Depois tu podes ficar com tua ranzinha. Rã, não, perereca.
Então confessas, seu sapo barbudo? Não confesso nada, apenas não é educado trocar o nome das pessoas. E que moda é essa de se importar com educação, tu que fala quase arrotando? Vamos dividir os girinos, fico com cinqüenta e tu com cinqüenta. Como é que vou dar de comer a esse monte de filhote? Aprende papudo!
Legenda da foto: O Casamento do Sapo. Montagem do grupo Mosay de Teatro
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