Há estreita relação entre as enchentes anuais do Mearim, os desabrigados, o binômio desmatamento de matas ciliares/poluição e governo.
Excetuando-se a cheia deste ano por sua excepcionalidade - nem tanta assim, já houve alagamento pior -, estamos diante de uma história esperada com enredo conhecido. Mais, a catástrofe só foi conhecida e saltou da fronteira maranhense, não por seu tamanho, mas pela dinâmica da comunicação num mundo global, antes disso, fora a região e o governo federal, que era notificado pelas declaração de calamidade pública, ninguém sabia de nada. Este mesmo governo, quando agia, a cheia havia passado tanto era o tempo perdido na burocracia.
A região central do Maranhão, as áreas das cidades mais castigadas pelo Mearim, sofrem com este fenômeno natural há pelo menos 60 anos. Todas as medidas governamentais até hoje foram inúteis e desde então o problema só piora.
O aumento da população às margens do rio, a pobreza endêmica sem perspectiva de melhora, exceto o bolsa família, a falta de um planejamento estratégico governamental, o desmatamento das matas ciliares com o consequente assoreamento do rio, contribuem para o estado de caos presente e futuro.
O ditos flagelados, ainda que pareça cruel, vêem nisso uma oportunidade de receberem atenção e cuidados. As perdas pessoais são mínimas, assim como mínima é sua vida. A cheia quebra um ciclo cotidiano de abandono, falta de trabalho, serviços públicos ruins e falta de horizonte. Há um lucro psicológico embutido que não se contabiliza a olhos vistos, tem que acompanhar o processo para vê-lo. As caras macilentas, os amontoados de pessoas em escolas ou abrigos improvisados, o "escândalo" de pessoas compartilahando o estábulo com cavalos para se abrigar, é seu cotidiano. As lentes e as câmeras e escritos do jornalismo nacional e estrangeiro é que ampliam o que, para eles, é indigência, mas que é parte natural da vida destas pessoas, sem enchente.
Os governantes de plantão seja de que matiz for - ainda existe matiz ideológico? - aproveitam a oportunidade para aparecerem como bem feitores e interessados pelas pobres vítimas. Um efeito colateral, entretanto, da super exposição na mídia é que mobiliza corações sensíveis de várias partes do país e organizações a ajudar e o fazem sem a intermediação deles.
Não há plano para o futuro. Se a mudança climática permanecer, tornando o período chuvoso nesta região sujeita a verdadeiras monções, talvez, aí sim, aja mudança. As pessoas mudariam das margens ou das regiões baixas - que incui quase toda a Trezidela do Vale - e iriam para áras mais altas. O rio, contudo, continuará a encher enlouquecido, porque há tempos perdeu seu caminho natural tal é o maltrato a que é submetido.
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