Por vários lugares da cidade se anuncia em outdoors, ilustrados por fotos enormes, das partes pudendas traseiras das bailarinas, todas elas em posições oblíquas, o show de funk Gaiola das Popozudas.
A cidade ainda carregava ares ancestrais de um provincianismo teimoso. Bem verdade que cada vez mais envergonhado. Muito daquilo que era pecado mortal, seja de etiqueta ou de comportamento, apareceu primeiro nas famílias mais tradicionais, pelo menos no aspecto de ganhar publicidade. Entre os do andar de baixo, a bagunça já corria às escancaras há tempos.
Enfim, se anunciava o show Gaiola das Popozudas, direto da cidade maravilhosa, estreado pelas dançarinas Leidjane Rebecca, Selênia Carla e Roberta Patrícia. Todas moças muito bem aquinhoadas daquilo que se diz ser patrimônio nacional, a saber, a bunda. Rejeitaram os apelidos frutíferos porque, diziam, não ficava bem para a imagem artística sofisticadas delas. Melancia, meu filho, se encontra em qualquer feirinha de ponta de rua, dizia a mais saída do trio.
O show consistia, como o nome já sugere, em se colocar as meninas trancafiadas numa gaiola e lá fariam suas performances acrobáticas que consistiria apenas em movimentos repetidos da região da alcatra, fazendo com que os glúteos avantajados se movessem em ondulações rítmicas laterais, frontais, para cima e para baixo. A vantagem da gaiola era dupla, evitava que algum espectador quisesse passar às vias de fato e mexia, afirmavam, com as fantasias masculinas. Coisa comprovada cientificamente, afirmavam os promotores.
As meninas cantariam, como não? Algo próximo ao ado, ado, ado, cada qual em seu quadrado. Para as auriculares mais sensíveis se podia emprestar protetores – por módica quantia –, porque o som era tão alto que nem regueiro maranhense aguentaria. Ademais, o espetáculo era mais, digamos, visual, do que propriamente auditivo. A vibração produzida no chão, mesas e cadeiras, eram suficientes para marcar o balanço.
Como parte da promoção, as meninas fizeram um passeio na Rua Grande. De quando em quando paravam, agachavam quase ao chão, de pernas abertas, e colocavam o indicador na boca, enquanto lançavam olhares lúbricos para os passantes boquiabertos. O rebuliço foi grande. Não foram exatamente às compras, mas vender seu produto, este embrulhado em peças minúsculas que de tão pequenas subsumia nas reentrâncias da costa maranhense. Uma delas, em entrevista, reclamou que elas não eram apenas uma carinha bonitinha, tinham talento. O diabo é que ninguém nunca reconhecia a cara de nenhuma, até porque as fotos e filmes promocionais do show não mostravam este detalhe anatômico.
Mas, convenhamos, em tempos de internete, ver coisas do arco da velha é mais comum que a dengue, por isso não se pode dizer que os homens estivessem particularmente interessados. Adolescentes, talvez, mas como as incertas que dona justa pudesse dar num show desta categoria fosse possível e problemático, os promotores estavam meio ressabiados em vender ingressos para esta categoria etária. Mas tudo se ajeita. Podia-se alugar uma carteira estudantil descartável de um curso madureira fictício, apenas para o caso de ter que mostrar que a idade era compatível. Dona justa gosta mesmo é de papel, então...
Movimento grande mesmo aconteceu nas hostes feministas. Promoveram passeata ressuscitando velhos jargões que, ainda mocinhas, lá pelos anos 60, São Luís só ouvia falar e elas não podiam manifestá-lo, até porque naqueles idos, só queriam uma coisa: encontrar um bom rapaz e casar, embuchar e cuidar da casa. Mas prometiam queimar sutiãs e rasgar calcinhas
Logo havia um bate-boca nos jornais. As artistas devolveram chamando as feministas de recalcadas, feias e, supremo xingamento, gordas. As feministas retrucaram que elas eram seres vulgares e denegriam a classe. Como resultado da malquerença, cada qual prometia manifestações mais audaciosas. Perguntem-me quem ganhou. As feministas. Ora, bunda balançando se vê em qualquer lugar e a toda hora, agora, sabe-se lá o que é ver uns estrupícios gritando palavras de ordem e fazendo fogueira de corpetes e calçolas em praça pública, isso sim, é que seria um show.
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