terça-feira, 10 de março de 2009

De homem a símio


Tenho cisma de qualquer um que por argumentos estes ou aqueles defendem, especialmente se os argumentos vem revestidos das ciências humanas, que os chipanzés e assemelhados tem não somente uma proximidade genética muito grande conosco – os números variam de 98% a 99%, são, de fato, quase humanos.

Não contentes, os defensores desta proximidade sócio-genética ainda fazem comparações, naturalmente favoráveis aos macacos, deixando em entrelinhas que a inteligência símia, em várias situações, é superior aos humanos.

Pergunto-me se tais pessoas não gostariam de involuir só um pouquinho, afinal, são apenas 2%, quem sabe 1% diferente, para ascender a esta casta de seres.

A Folha, há várias edições on line, às segundas-feiras, carrega na barriga uma tradução de vários artigos do The New York Times. Por preguiça de ler e por causa do meu inglês macarrônico, fico a escorar este momento para ler os gringos.

Na edição última, a sessão Lente, traz a triste história de Travis. Um chipanzé de 14 anos, amante de vinho, que gostava de distrair-se na tv e dormir com sua, digamos, dona, na mesma cama que, segundo se conta, tratava-o como a um filho.

O Travis, com hábitos bem humanos, o que deve chatear aqueles que defendem a parecença, mas com vantagem aos macacos, como já dissemos, teve um dia de fúria. Sabe-se lá porque, talvez o tédio desta vida excessivamente mundana, quem sabe gostaria de ter uma vida mais aventuresca, um safári na África, uma atuação num Tarzan, uma ponta num novo Kink Kong, enfim, Travis estava de saco cheio e resolveu dar uns catiripapos numa amiga de sua dona.

A polícia americana, ainda traumatizada como 11 de setembro (2001), e sem poder bater ou atirar em negros – nos não americanos ainda pode – como fazia antes do movimento pelas liberdades civis que acabou com a segregação, fulminaram o entediado e irado Travis à bala.

O autor do artigo sai da história e passeia por vários assuntos paralelos e termina na armadilha ridícula da parecença com vantagem para os macacos. Como eles não admitem dizer que os macacos são inferiores, eles primeiro depreciam o homem e sua violência e demais defeitos que todos carregamos, em seguida perguntam colocando dúvida em nossa capacidade. Um exemplo perfeito é o que segue: Claro, somos mais inteligentes. Será? Conforme escreveu o biólogo Michael Tomasello na revista do ‘Times’, a questão da inteligência humana versus a símia nem sempre está clara.”

Falta a este(a) articulista uma aula da sumidade brasileira Falcão, infelizmente pouco conhecido do mundo antropológico, sociológico e outros bichos. Numa única expressão finaliza esta querela: pq homem é homem, / menino é menino, / macaco é macaco / e viado é viado / homem é homem, / menino é menino, / politico é político / e baitola é baitola.”


E o desmantelo segue em frente, agora já apelando para qualquer bicho que se pareça macaco para justificar um texto politicamente correto, não preconceituoso com os nossos parentes e, suponho, em memória ao burro e chateado Travis. O autor diz que os chipanzés vivem em sociedades patriarcais, machistas e violentas – olhem os termos – mas o bonobos, seus primos, tem uma sociedade matriarcal e pacífica e as querelas são resolvidas com uma boa copulação. Ele queria dizer que os macacos bonobos têm lições de habilidade social a nos ensinar.

Pronto, eis a solução para o nó israelo-palestino. Não deixa de ser curioso, em vez de se matarem vai todo mundo para cama, mato, montanha, deserto, onde der e...

A frase em inglês é mais ou menos: "Eles vão ter que encontrar alguém para escrever a próxima notícia estimulante".

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