Um elenco
premiado e experiente e um enredo muito bem montado faz de Trapaça um excelente
candidato ao Oscar este ano. O diretor (David O. Russel) que, segundo descobri,
é fã de Scorcese, conseguiu colocar muitos elementos do estilo deste na trama,
a la “O lobo de Wall Street”, mas ainda melhor. Ele também dirigiu os incríveis
“O vencedor” (2010) e “O lado bom da vida” (2012), todos fortes concorrentes ao
Oscar em seu momento.
Então, fora a
excelentes atuações, particularmente do quarteto principal – Irving Rosenfeld (Christian Bale), Sydney Prosser
(Amy Adams), Richie Dimasio (Bradley Cooper) e a vencedora do Oscar de melhor
atriz de 2012 por “O lado bom da vida”, Rosalyn Rosenfeld (Jennifer Lawrence) – o que o filme
deixa de duradouro para um pensar?
Para mim, o
personagem Irving que, sendo um homem do submundo do crime, um self made man, sagaz e criativo, inteligência
acima da média e, talvez por isso, demonstre duas características difíceis de
encontrar: uma pessoa que sabe exatamente sua medida e seu lugar no mundo, além
de, neste contexto, ser alguém que revela princípios. Sim, cada mundo tem suas
regras e a sobrevivência implica em lidar com elas com quem sabe que não pode
desafiar a gravidade ao saltar de um prédio de 10 andares sem paraquedas.
Mas um
pilantra que dá golpes de falsos empréstimos, explorando o desespero de outros
trapaceiros, endividados ou perdulários; vende arte falsificada e administra
como fachada uma pequena rede de lavanderias, pode ter princípios? Claro que
pode. Se se abstrai a cor moral, o sucesso “empresarial” e a vida relativamente
distante da cadeia. Isso tem a ver com controle que se funda em princípios e
autoconhecimento. Alguém que só dá o passo onde a perna alcança.
Acho que o
Eike, queridinho do governo até outro dia e que tinha o sonho louco de ser só o
homem mais rico do mundo, teria alguma coisa a aprender com Irving. Não é que não
se deva sonhar ou fazer planos que pareçam, às vezes, impossíveis. Para ser
gigante, convém não ter pés de barro.
Irving é
arrastado para um plano mirabolante de um policial do FBI (Dimasio) que, sim,
não tem limites na sua ambição. Homem com sede de grandeza. Ao longo da
história ele fica cada vez mais obcecado com a possibilidade de prender metade
dos políticos e mafiosos de Nova Jersey, incluindo o Prefeito da cidade. Para
isso ele precisa da expertise de Irving para bolar um plano, uma rede, se
quiserem, que colocará no mesmo saco todos os que ganham propina e quem os
paga. Já de cara se vê que, fosse no Brasil, não haveria cadeia no mundo que
coubesse tanto marginal. Sem falar no tempo que os processos levariam. Taí o
Mensalão com seus longuíssimos 8 anos e os patifes, não satisfeitos, querem
outro julgamento.
Enfim,
o filme é soberbo naquilo que tem de maestria como a história é contada. Nada
está demais ou faltando. E a trupe de atores mostra competência e dão
veracidade a seus desesperados, marginais, ridículos e humanos personagens.
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