O termo
“minoria” diz respeito a um grupo humano caracterizado por vários aspectos, que
incluem desde práticas culturais específicas religiosas e não religiosas até a
cor da pele, idioma e um sem número de outras qualidades à parte do campo
sociológico e antropológico, como as pessoas acometidas por doenças mentais e
limitações físicas, por exemplo. Estes inumeráveis grupos, normalmente, estão
em desvantagem numérica em relação a uma maioria que exerce sua força
majoritária nas sociedades, às vezes em desfavor ou desconsiderando a
existência das necessidades daqueles grupos ditos minoritários.
Talvez
possamos estabelecer um ponto de partida para as políticas (ações) afirmativas
atuais na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), promulgada pela ONU
e ainda outras similares que dela derivaram, tais como as Convenções pelos
direitos da criança, contra o racismo e xenofobia, etc. É claro que eventos
históricos graves no campo político e econômico – o holocausto durante a
Segunda Guerra Mundial –contribuíram para a consolidação da defesa das
minorias. O que é justo e certo.
Mais recentemente,
a globalização em todas as suas faces (econômicas, políticas, sociais) reforçou
a ênfase em favor das minorias, pois a uniformização do mundo amplificada pelas
redes mundiais de comunicação ameaçaram culturas e sociedades que se viram
perdendo valores ancestrais nas novas gerações e, no movimento contrário,
passaram a reafirmar estes valores de forma a garantir sua identidade.
O problema,
no meu ponto de vista, é que neste exato momento, especialmente nos países
ocidentais, este conceito de minoria ganhou tal dimensão que caminhamos céleres
para uma sociedade esfacelada em milhares de minorias, todas defendendo seus
direitos e exigindo garantias e privilégios especiais à sua condição. O
conceito está tão elástico que quase todo tipo de diferença pode ser definido
como minoria.
Como efeito
desta verdadeira proliferação de minorias, vê-se que as normas que organizam a
sociedade são hoje definidas não pelo maior número de pessoas beneficiadas, mas
impõe a estas, que não se classificam em qualquer destes grupos,
comportamentos, limites e obrigatoriedades que não preservam a tal minoria ou
apenas lhe garantem o direito de existir e viver conforme seus valores e
crenças – naturalmente entre si e os seus –, mas abarcando aqueles que até não
desejam que se lhes imponham estes valores.
A razão
desta imposição é justificada por seus defensores com outra palavra cara a este
movimento: inclusão. Levados ao limite, estes conceitos afirmam pelo menos duas
propostas contraditórias: preservar a individualidade e uniformizar a todos,
como numa sociedade maoísta. Isso nem é dialético, está mais para algo
esquizofrênico. As fronteiras da democracia estão sendo levadas ao seu limite,
particularmente no que tange à convivência entre diferentes. Em seu nome,
subverte-se a liberdade no sentido mais amplo por inúmeras pequenas liberdades
e regras microscópicas impositivas.
O Brasil,
como um país democrático, reflete esta maré que tem no politicamente correto
seu apoio ideológico, mas que não passa de uma forma de opressão às avessas. O
perfil psicológico das minorias em geral, certamente com poucas exceções, é de
meninos e meninas – veja que tenho que citar os dois gêneros sob pena de
discriminação – mimados que só sabem exigir direitos e ai dos que não lhes
atendem, pois farão birras em praça pública e lhes xingarão de
antidemocráticos, intolerantes e preconceituosos. Ah, se o discordante tem uma
expressão de fé, será também chamado de fundamentalista.
Estas
minorias usam outro valor democrático, uma nebulosa versão do que chamam de
opinião pública. As recentes listas de abaixo assinados eletrônicos são a face
mais visível deste tipo de manifestação deles. Neste caso, nada mais é que a
cooptação de uma parcela da sociedade que se encontra anestesiada e desorientada
e que compram seus pontos de vista pelo valor de face, sem crítica de qualquer
espécie. Aliás, as minorias detestam crítica. Criticá-los é tornar-se seu
inimigo e, sem dúvida, um intolerante. Eles não são permeáveis ao
contraditório, pois isso atenta contra sua própria existência, imaginam.
Eles são
estridentes e agora gritam seus direitos, invadem espaços públicos, avenidas,
atropelam a voz alheia, caçam o direito de discordar e a sociedade, refém de
uma espécie de culpa no caso de alguns e por uma suposta coerência democrática,
dobra-se. Eles patrulham em todos os meios de comunicação uma fala, até a
intenção de alguém, para denunciá-lo e expô-lo como um perseguidor de minorias.
Até uma apostila de física num colégio em Fortaleza (CE) tornou-se alvo da
sanha destes movimentos, pois, naquele caso, a ilustração sobre polos que se
repelem e se atraem foi transformada num atentado homofóbico.
Chegará
a hora em que – a manter-se o atual estado de coisas –, se consolidará de fato,
uma forma de ditadura, uma cerceação, uma permanente insegurança para todos que
são apenas pessoas normais (aqui no sentido de não ter qualquer característica
expressiva e relevante de diferença), que viverão se policiando sobre uma
palavra fora do lugar, pois um ato descontraído e impensado se tornarão passíveis
de punição. Se isso não é algo parecido a uma ditadura, com que se parece?
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