terça-feira, 27 de julho de 2010

Político que reza, não se salva

O ex-deputado distrital Júnior Brunelli, flagrado no vídeo da "oração da propina", foi expulso do PSC. Segundo a assessoria do presidente da sigla, Vítor Nósseis, Brunelli foi expulso por improbidade e por ter tentado registrar sua candidatura a deputado federal (DF) sem a permissão do partido.

Fonte: Folha de São Paulo

Escrevo esta carta aberta aos meus fiéis eleitores que certamente ficarão decepcionados com tamanha violência que sofro nesta hora. Digo com imensa tristeza d’alma que nosso trabalho que tanto tem engrandecido o povo brasiliense, não poderá mais ser realizado. E por quê? Faço esta pergunta retórica para que todos saibam exatamente o que acontece. Fui expulso do Partido Social Cristão porque demonstrei minha fé. Quer dizer, fiz aquilo que o partido carrega até no nome, mas que infelizmente, é só gogó.
Que atire a primeira pedra quem nunca na vida fez uma oração para agradecer uma bênção. Pois é exatamente por isso que fui agredido em meu direito de me candidatar e manter a influência cristã no meio político. Orei, sim, pelas bênçãos que recebi. Falam em propina, mas a verdade é que exerci minha fé e o dinheiro ganho é porque sou abençoado. Ademais, a palavra propina não condiz com os fatos e enxovalha a mim como crente fervoroso. Houve uma troca de favores entre o executivo e o legislativo que, como se sabe, precisam andar ali, juntinhos, no cuidado da coisa pública.
Um deputado tem muitas despesas. Não queiram saber o desespero que é. Ajudamos muita gente. É um pede-pede infeliz. Um não tem sossego. E alguém pensa, por acaso, que o povo que pede quer um aperto de mão? Não senhores, querem dinheiro. Nosso governador Arruda – pode não ser pra outros, mas é pra mim, pois foi eleito pela vontade do povo – sempre foi sensível à demanda popular de nossa bancada e sabe o que é ajudar a população mais carente.
Nosso sábio presidente Lula já disse que Jesus, se estivesse na política, faria acordo com Judas e o criticaram. Esta imprensa elitista que distorceu as palavras do presidente, do mesmo modo avacalharam as minhas. Isto é preconceito religioso. Então não posso orar e agradecer uma coisa boa? É assim que começa. Hoje criticam uma oração, amanhã jogarão pedras nas igrejas, depois de amanhã vão mandar os crentes usar uma cruz amarela que nem os judeus na Alemanha da Segunda Guerra.
Sem falsa modéstia, sou um mártir político-religioso. A exemplo de nosso Senhor, até quis subir numa cruz, para mostrar minha dor e em nome dos que foram injustiçados assim como eu, mas minha mulher desaconselhou porque estou um pouco acima do peso. Vocês entendem, não é? Já me perguntaram se tenho vergonha da oração. Não, mil vezes, não. Expressei minha fé pura e sem mistura. Qual é a vergonha nisso?
Olhem se isso não é coisa do fim dos tempos. Deram um nome à operação que, nada mais, nada menos, se trata de uma mulher que tem pacto com o coisa ruim. Pandora é o nome dela. Esta mulher foi uma invenção dos deuses para castigar a humanidade. Pela curiosidade terrível que tinha, abriu uma caixa onde estavam guardadas toda miséria e desgraça. Olhem só o resultado? Agora imaginem o que vai acontecer daqui pra frente.
Os mal intencionados dizem que participei de um tal mensalão, coisa que nem sei o que é. Participei, sim, da oração. O que sei, caros eleitores fiéis, é que nossa luta continua. Confio na justiça divina, porque a dos homens está contaminada pela choldra que conseguiu distorcer e corromper nossos briosos senadores e deputados a editar uma lei que apelidaram de ficha limpa e não passa de perseguição a quem quer trabalhar. Eles que se cuidem, pois se eu orar de novo, mando descer fogo do céu e ai deles, ai deles... Amém.   

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