O norte-americano Michael Francis McLaughlin, de 48 anos, foi preso na semana passada em Gastonia, no estado da Carolina do Norte (EUA), depois de ser flagrado em uma rua segurando um cartaz que dizia: "Eu estou pensando em um hambúrguer".
Fonte: Do G1, em São Paulo
A vida tem sido uma madrasta para mim, essa é que a verdade. Você me pergunta como é que eu vim em cana. Já sei o script, colega. É praxe trocar figurinha com o companheiro de cela. Pois não se impressione comigo. Sou pé de chinelo. Você veio por bater na mulher? Isso é mal, colega, mas você tem sorte. A minha é que batia em mim.
Já estive aqui antes. Nada grave. Dirigir bêbado. Isso quando eu tinha carro. A minha ex, aquela bruxa, me tirou tudo. Até o treiler. Já dormi por um tempo dentro de um contêiner. No verão é um inferno. Mas desci ainda mais. Antes da prisão, dormia num tubo de concreto. Outro motivo? Vadiagem. Pois é, já fui preso por isso também.
Num país civilizado isso nunca aconteceria. Mas estamos aqui, nos Estados Unidos da América. Encarno o perdedor, tudo que este país mais odeia. Mas não é assim no mundo todo, não, senhor. No Brasil, por exemplo, um cara como eu tem vez. No mínimo estaria pendurado no Bolsa Família ou então invadindo terras. Até o governo defende, você acredita?
Sei que pedir esmolas ou comida é contra a lei. Aqui em Gastonia quem não tem para gastar, está lascado. Piada infame, essa. Eu sei, não é engraçado. Eu quero é que me digam como infringi a lei. Isso é uma interpretação muuuuuito esticada desse juizinho. Eu mesmo estou orgulhoso da minha astúcia. Veja você se cometi ato ilegal? Sem emprego há três anos, vivo de bico. Faz tempo que não tenho nada do seguro desemprego e mesmo é uma merreca, não dá pra nada. Há dois dias não boto nada na boca.
Usei a cachola. Minha cara não diz, mas aqui dentro (aponta para o cérebro), colega, tem fosfato. Só fiz um cartaz com dizeres inocentes, evidente, bem na frente da lanchonete local. Dizia assim: “Estou pensando num hambúrguer”. Poderia passar por qualquer um que protesta contra estes fast foods que só engordam os outros. O dono da lanchonete não gostou.
Quando dei por mim, chega um policial. Que você tá fazendo aqui? E eu. Nada, senhor. E esse cartaz? Que cartaz? Perguntei. Ele achou que eu estava com deboche. Ele insistiu. Esse aí que você segura dizendo que está pensando em hambúrguer. Aí eu vi que aquele sujeito de maus bofes estava mal intencionado. Disse que nem tinha visto o que estava escrito. Que peguei o cartaz para fazer uma sombrinha e tal. Quem disse que o homem engoliu?
Fui preso por dizer a verdade, é isso. Com fome, um sujeito só pensa em comida. É ou não é? E esses hamburgueres, meu camarada, o cheiro daquilo para um pobre com fome é uma tortura. Eu estava pirando e como não podia pedir, saquei o lance do cartaz.
Lá no Brasil, o negócio é outro. Qualquer um pode mendigar. Aliás, colega, um amigo me disse que pedir é quase um esporte nacional. Tem tanta gente pedindo que aqueles que aparentam que podem dar algo é que correm dos pedintes. Pede o gari, pede o funcionário público (mas aí tem outro nome). Os flanelinhas, ah, já este atacam é na chincha. Lá eu seria fichinha. Sabe o que é isso? Direitos humanos. Lá eles respeitam.
Agora quem pede mesmo são os políticos. Quer dizer, pedir, pedir, não é bem o termo. Eles pedem o voto e depois eles tomam na surdina ou nem tanto, o que podem. É uma raça infeliz em todo lugar.
Tô pensando que talvez, depois desta cana, dar um pulinho lá pras bandas do Brasil. Acho que vou me dar bem. Já viu que nos filmes tudo quanto é bandidão só foge pra lá? Agora, aqui pra nós, eu acabei me dando bem. O juiz me tascou uma fiança de 500 dólares, que não tenho, naturalmente. Ele disse que é pra eu e outros de minha laia sair de circulação, mas no final das contas, arrumei casa, comida e roupa lavada. Sou esperto ou não sou?
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