segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Quem se comunica se trumbica


Ganha um Ignóbil quem encontrar alguém que, tendo um celular, nunca tenha sofrido o diabo nas mãos das operadoras. Não à toa elas são campeãs em reclamação dos órgãos de defesa do consumidor. Acho que eles se orgulham disso. Deve ser alguma espécie de campeonato às avessas.
Claro que o país melhorou neste quesito. Saímos do monopólio estatal ineficiente, burro e caro. Hoje temos a opção de escolher entre várias ruins. A diversidade é grande: Ai, Morto, Tum, Escuro, que mais podemos querer?
Pois foi dos arquivos de uma dessas agências de proteção às vítimas (consumidores) que retirei estas histórias rocambolescas que de tão esquisitas parecerão irreais ao leitor, mas afirmo, são verdadeiras.
Ah, tive que escolher um tema, imaginem, tantas são as variedades de coisas sem-pé-nem-cabeça com que um se depara. Digite 1 para telefone que não fala ou dá choque. Digite 2 para cobranças irregulares ou fones explosivos. Digite 3 para serviço porco ou namoro com a secretária eletrônica. Era algo assim. Uma lista a perder de ouvido. Escolhi comunicação por torpedo.
Biluzão e Biluzinho, dois ladrões pé de chinelo, mas que tinham ares de mafiosos da Cosa Nostra – sem a inteligência e a maldade daqueles –, viviam fazendo planos mirabolantes. A ideia era um roubo definitivo e a aposentadoria. Entre um furto, um conto do vigário, viram no jornal que a moda era roubar caixa eletrônico. Biluzão, o cérebro, montou um plano infalível. Contrataram dois a toas iguais a eles e foram ao ato.
Para dar um ar de sofisticação tudo seria combinado via torpedo. Não sabiam eles que aí estava seu calcanhar de Aquiles. Nestas coisas a precisão é tudo, como se sabe. Havia um tempo mínimo entre a passagem da ronda policial e a virada da câmera móvel. De seu posto de observação, Biluzão mandaria o sinal para a ação. A senha era “vai”. Tudo pronto. Patrulha passou, a câmera olhou para o outro lado. Biluzinho e os comparsas esperavam. Biluzão manda a mensagem. Na tela do celular: “Sua mensagem não pôde ser enviada.” Droga, eu botei crédito! Um não pode nem confiar na operadora Ai para fazer seu trabalho.
Enquanto isso, Biluzinho aguarda. Dez minutos depois, no celular de Biluzão: “Sua mensagem foi enviada com sucesso”. Era uma ironia. Biluzinho sai em desabalada e mal começa a arrancar o caixa, a patrulha volta e os pega.
O casal brigou. O motivo foi uma destas coisas mesquinhas que se cultiva de vez em quando. Desta vez, porém, havia um ar de definitivo. A mulher se recusava a ir embora para outro lugar onde se casariam e viveriam. Se eu entrar naquele avião nunca mais terá volta, disse o namorado e saiu. Pode ir, disse a mulher dando de ombros. Os minutos foram passando e uma angústia terrível se instalou nela. Arrependimento. Burra, dizia, um cara como Beflágio vai ser difícil encontrar. Mas não queria dar o braço a torcer. Orgulho, certamente. Mando um torpedo, se ele não responder, pelo menos não passo vergonha, pensou. Bé – assim ela o chamava quando queria acarinhá-lo – não vai, eu quero você.
Segundos depois a mensagem maldita da Escuro: “Sua mensagem não pôde ser enviada”. O voo era às 14h. Às 14:23 outra mensagem na tela. “Sua mensagem foi enviada com sucesso”. Bé nem recebeu porque já estava a nove mil pés de altura, por coincidência, sentado ao lado de uma bela morena que, pela conversa, prometia.
A chave só deve ser ligada quando eu mandar, disse o chefe da obra. Vamos combinar. Eu mando um torpedo com a palavra “liga”. Assim de simples. Perfeito chefe. Olha lá, hein! Faltou combinar com o serviço de telefonia móvel da Tum.
O cabo que alimentava o parque de diversões apresentou um defeito justo na hora em que centenas de pessoas usavam os brinquedos. Uma parte dos operários retirariam as pessoas que estivessem mais à mão. Os outros tentariam o conserto do cabo. E o trabalho do Zé era esperar a ordem e ligar a chave geral.
Os enganchados na roda gigante, montanha russa e qualquer outra coisa que deixasse as pessoas nas alturas ficariam para quando a energia fosse restabelecida.
O cabo foi consertado. O chefe manda a mensagem para o Zé: “liga”. Ato contínuo a tela se ilumina com uma contramensagem: “Não foi possível enviar sua mensagem”. O chefe se exaspera. Todos esperavam que o Zé ligasse a chave. O chefe até berrou, mas Zé, com fone de ouvidos, ouvia à toda uma destas músicas bate estaca.
Cansados de esperar a equipe de resgate volta a retirar as pessoas que estavam mais aflitas. Então, o celular do chefe recebe a boa notícia: “Sua mensagem foi enviada com sucesso”. Zé liga a chave, os brinquedos rodam. Enquanto despencam pedaços de gente trucidados pelas engrenagens, Zé, satisfeito com seu trabalho, balança o esqueleto.

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