A polícia da Espanha anunciou nesta quinta-feira ter prendido uma quadrilha de traficantes de drogas especializada em roubar outros grupos de traficantes.
Disfarçados de policiais, vestindo coletes à prova de balas falsos, os bandidos simulavam uma operação policial para roubar as drogas.
Fonte: De Madri para a BBC Brasil
Na porta da delegacia, uma multidão se acotovelava aos gritos: Libertem Janjão Capeta! Libertem Janjão Capeta! Do lado de dentro, os poucos policiais de plantão foram pegos de surpresa e, por via das dúvidas, montaram uma barricada na entrada. Vai que a turba enfurecida arrombava a porta. Não dava nem para pensar. O motim só aumentava a cada hora.
O delegado, por sua vez, não estava tão preocupado, esfregava as mãos, já pensava era em promoção, quem sabe chefe da polícia no Senado, diziam que era uma moleza e se ganhava uma baba. A operação “Carrapato da Bancada” fora um estrondoso sucesso e só com muita sorte conseguiu pegar Janjão Capeta e sua quadrilha, que há meses atormentavam senadores e deputados em roubos cada vez mais ousados, coisa que nem os federais conseguiram. Dizem que faziam corpo mole.
A imprensa, num gesto inédito, fazia a voz das ruas com as manchetes a cada roubo. As emocionais: “Quadrilha ou Heróis do povo?”. As dúbias: “Câmaras alta e baixa se unem contra concorrência predatória”. As neutras: “Legislativo clama por segurança”. As populistas: “Mais um ato cívico da quadrilha de Janjão Capeta”. As axiomáticas: “Quem com ferro fere...”. As bem humoradas: “Ladrãozinho que rouba ladravaz é demais”
Esse povo tá louco! Uma hora nos esculacha porque não prendemos os meliantes, quando prendemos querem soltar, disse um dos policiais. Chefia, não sei até que ponto esse Zé-povinho lá fora vai se segurar. Positivo Pereira, tô ouvindo daqui, mas tenho que instruir o inquérito. Traz o homi.
Olha rapaz, vou logo te avisando, aqui não tem moleza. Não pense que vou te tratar como um Robin Hood que nem esse povo aí fora. Pra mim, ladrão é ladrão. Aliás, aqui nada de encarnar o Capeta, aqui só tem anjo, ao contrário do Palácio em Brasília que não tem santo. Janjão nada disse. O delegado queria impressionar. Acho bom tu cooperar e dizer a história toda, se não a coisa vai feder. Ô Pedrão, isso era só uma metáfora, eu já não disse pra tu não comer a feijoada da esquina. Vôte, num tem que aguente. Vai lá vigiar a porta, quem sabe com um desses traques, tu bota o povo pra correr.
Janjão, absorto, sorriu, saboreava a fama repentina, enquanto o delegado se distraía com seu subordinado flatulento. Apenas com o movimento da boca, sem voz, fazia coro com a muvuca de gente à porta: Jan-jão! Jan-jão! Jan-jão! Quase pego de surpresa, parou quando o delegado voltou-se para ele.
Bora, rapá, desembucha! Dotô, não sei por que este povo tá aí gritando meu nome, não. E eu tô lá te perguntando isso, seu desmantelo! Quero saber é de onde tu tirou esta idéia de assaltar os “incomuns” representantes do povo? Foi a crise, dotô. O desemprego rareou os Mané pra nóis assaltar. Eu não faço maldade, mas uma hora um se aperrea. Sabe lá o que é “trabalhar” uma semana inteira e só faturar trocado. Ladrão é preguiçoso, chefia, e ficar pegando só merreca, cansa um. Sei, sei... Mas tu não respondeu o que perguntei. Quero saber é a parada com os pundonosos senadores e deputados. Pundo o quê, chefia? Deixa pra lá. Abre o jogo, tu não tá aqui pra entender nada.
Lá fora a massa se esgoelava. Soltem Janjão seu meganhas! Ar-rom-ba, Ar-rom-ba, Ar-rom-ba.
Pois então, nóis pegou um ricão desses aí meio por acaso. Os bichos são difícil de achar. Só andam de carro brindado, asa dura e beija-flor. Que é isso? Quê? Beija-flor. Heliscópteros. Prossegue. Na hora agá, o sujeito cantou que era senador e tal. Aí nóis cunversemo com ele pra saber onde tinha mais e ele logo sugeriu que se nóis num fizesse mal a ele, pra muié dele, pros fi dele, pros empregado dele, pros... Chega, chega, arre com tanta gente. E nem cheguei na metade. Pois bem, ele topava dá umas dicas pra nóis pegar outros da iguala dele. Mas só se nóis jurasse de pé junto num machucar ninguém. Ora, topemo na hora. O delegado estava boquiaberto.
Quer dizer que tem um senador que orienta vocês? Orientar num precisa, né chefia, moléstia a parte nóis sabe fazer bem nosso serviço. Olha o deboche seu estrupício. Nóis recebe dica, só isso. Como assim? Tipo onde mora, onde passeia, aí o resto é com nóis. Quer dizer, aqui acolá nóis dava um tabefe pra mostrar quem mandava. Êta bando de bixim empafioso!
O delegado ia fazer a próxima pergunta quando sua sala foi invadida por uma dúzia de MIBs (homens de preto), fortemente armados, que se identificaram como agentes da ABIN. O homem é nosso. Deram-lhe um catiripapo. Praticou crime federal. O delegado: Mas, mas... Mas, nada, mexeu com a nata do país, vamo botar ele na mão do Supremo. Intimidado e a contragosto, o delegado cedeu. Acompanhou a comitiva que era esperada por montes de carros lá fora, a multidão já isolada. Olhando comprido para sua glória e promoção que se ia. Ainda deu tempo ler em um dos carros: “Uso exclusivo em serviço do Senado Federal”.
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