segunda-feira, 15 de junho de 2009

De postiçagem eu entendo

A Polícia Rodoviária Federal apreendeu nesta sexta-feira 30 kg de cabelo humano com duas pessoas que viajavam sem documentação fiscal em Campo Grande (MS).

Fonte: Folha Online

Tem procedência sim, senhor. De onde? Daqui, dali, de uns e outros. Não quero enrolar o senhor, deusmelivre, é que às vezes me procuram para vender, às vezes boto preço em quem encontro na rua. Bem... Deixe que eu me apresente. Meu nome é Chicabelo, se escreve tudo junto. Como o senhor vê, meu nome já carrega minha profissão. Pois não, compro e vendo cabelo. Sustentei até hoje meus filhos desta forma. Quer saber meu nome verdadeiro? Pois não. Franciseliton, é a mistura de Francisca e Wellington, meus pais. O senhor não quer saber? Desculpe. Era para quebrar o gelo. O senhor tem razão, não estamos no pólo norte. Ó, o documento...

Nas sacolas deve ter uns trinta quilos. Do bom, não vendo bucha piaçaba não. Não senhor, nunca pensei que precisasse nota. E precisa? Vixe. Nem imagino como fazer para dar nota. Meu negócio é autonômico. Sim, senhor, sozinho. Valha-me nossinhora, tráfico de mulher? Nunca na minha vida! Vejo uma mulher do cabelão – homem também – chego junto e ofereço: dou tanto pelo cabelo. Vendo a quilo, mas compro mesmo é no olho. Tá assim ó – junta os dedos – de gente que quer comprar. É para um tal de megarré. Recebo muita encomenda. Esse aqui, lorinho, já tem uma mulher esperando.

Nas sacolas pequenas tem unha, pestana, sobrancelha. O senhor não vai acreditar, o povo tá todo postiço. A moda, dizem por aí, começou lá em Brasília. Com quem? Com os políticos, ora. Sim, nóis bota eles lá, mais depois os bichos se transforma, só postiçagem. Me perdoe, não quero ensinar nada ao senhor, não. E como é que nóis fica? Em minha capanga, tá os pagamentos, quê que isso tem com os cabelos? Num tô robando... Ilegal? Só por causa de um pedaço de papel? Como confesso sonegação? E o senhor já viu dá nota fiscal para dona Mariinha que me vende cabelo a cada seis mêis? Ela vai estranhar, até pensar que quero denunciar ela por causa disso. O cabelo é dela, faz o que quiser. Entre nós é no fio do bigode, não tem papel. É verdade, bigode hoje não vale mais nada. Mas não todos.

Nunca vi falar em seri... como é que é, serialré? O quê que é isso meu amigo? Um sujeito que tá cortando os cabelo das mulher na rua? Isso deve de ser algum concorrente que quer me queimar. Só compro cabelo no teto. O que é isso? É modo de dizer, cabelo na cabeça dos donos. Pago bem. Em São Paulo não há cabelo que chegue, inda mais agora com esta marmota de parada dos homossexual do gênero masculino – aqui a gente chama de qualhira. Olhe, tanto tenha como vende. Ficam tudo parecidinho com mulher, até confunde uns e outros. Mas deixa pra lá, são bons pagadores e bons fregueses, por mim tinha parada duas vêiz no ano.

É como eu disse. Só comercializo cabelo e estes adjutóriozinhos aqui. Tem gente que tem unha podre e coloca uma dessas, é melhor que as de plástico e dura que só vendo. Nem todo mundo é Zé do Caixão, né não. É verdade, não tem graça. Ser falso, quero dizer, postiço, é melhor. Um tira e bota o que quer. Tem dia que uma mulher que ser uma lôra de unha grande. Outro dia quer um cabelo preto e liso.

O senhor nem queira saber, tem homem que põe bigode. Agora mesmo é moda, deu no jornal. Sei não senhor. O senhor fala daquele que manda naquela cuia emborcada lá nas Brasília? Difícil, o bigode dele é pintado e postiço, é freguês antigo. Os modistas diz que o sujeito fica com a cara mais macha e as mulher gosta da cosquinha na cara. Vi na tv. Aqui, só pro senhor, fui eu que vendi aquele cocó gigante daquela menina cantora... aquela dos estrangeiro... lembrei! Amy Anirrouse. Mas isso é segredo, num posso espalhar por aí, boca de siri, ouviu?

Não faça isso comigo, tenho freguês esperando aqui em São Luís. E isso é lá função do senhor, prender os produto da gente? Não senhor, não quero ser saído, mas o senhor tá tirando a comida da boca de minha família. Que tal, este vermelho aqui não é pintado não, raridade, fica para o senhor. Não, quero dizer, pra sua mulher. Na volta arranjo outro se ela quiser. Não diga isso, é só um presente, não quero subornar ninguém. A sua senhora lhe mata porque esta era a cor do cabelo da sua ex...? iiiiihhhhh.

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