Tem procedência sim, senhor. De onde? Daqui, dali, de uns e outros. Não quero enrolar o senhor, deusmelivre, é que às vezes me procuram para vender, às vezes boto preço em quem encontro na rua. Bem... Deixe que eu me apresente. Meu nome é Chicabelo, se escreve tudo junto. Como o senhor vê, meu nome já carrega minha profissão. Pois não, compro e vendo cabelo. Sustentei até hoje meus filhos desta forma. Quer saber meu nome verdadeiro? Pois não. Franciseliton, é a mistura de Francisca e Wellington, meus pais. O senhor não quer saber? Desculpe. Era para quebrar o gelo. O senhor tem razão, não estamos no pólo norte. Ó, o documento...
Nas sacolas deve ter uns trinta quilos. Do bom, não vendo bucha piaçaba não. Não senhor, nunca pensei que precisasse nota. E precisa? Vixe. Nem imagino como fazer para dar nota. Meu negócio é autonômico. Sim, senhor, sozinho. Valha-me nossinhora, tráfico de mulher? Nunca na minha vida! Vejo uma mulher do cabelão – homem também – chego junto e ofereço: dou tanto pelo cabelo. Vendo a quilo, mas compro mesmo é no olho. Tá assim ó – junta os dedos – de gente que quer comprar. É para um tal de megarré. Recebo muita encomenda. Esse aqui, lorinho, já tem uma mulher esperando.
Nas sacolas pequenas tem unha, pestana, sobrancelha. O senhor não vai acreditar, o povo tá todo postiço. A moda, dizem por aí, começou lá
Nunca vi falar em seri... como é que é, serialré? O quê que é isso meu amigo? Um sujeito que tá cortando os cabelo das mulher na rua? Isso deve de ser algum concorrente que quer me queimar. Só compro cabelo no teto. O que é isso? É modo de dizer, cabelo na cabeça dos donos. Pago bem.
É como eu disse. Só comercializo cabelo e estes adjutóriozinhos aqui. Tem gente que tem unha podre e coloca uma dessas, é melhor que as de plástico e dura que só vendo. Nem todo mundo é Zé do Caixão, né não. É verdade, não tem graça. Ser falso, quero dizer, postiço, é melhor. Um tira e bota o que quer. Tem dia que uma mulher que ser uma lôra de unha grande. Outro dia quer um cabelo preto e liso.
O senhor nem queira saber, tem homem que põe bigode. Agora mesmo é moda, deu no jornal. Sei não senhor. O senhor fala daquele que manda naquela cuia emborcada lá nas Brasília? Difícil, o bigode dele é pintado e postiço, é freguês antigo. Os modistas diz que o sujeito fica com a cara mais macha e as mulher gosta da cosquinha na cara. Vi na tv. Aqui, só pro senhor, fui eu que vendi aquele cocó gigante daquela menina cantora... aquela dos estrangeiro... lembrei! Amy Anirrouse. Mas isso é segredo, num posso espalhar por aí, boca de siri, ouviu?
Não faça isso comigo, tenho freguês esperando aqui
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