TJ mantém condenação de acusado de roubo a salão de beleza
A 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça manteve, esta semana, a condenação de Wisley Gomes Ferreira a cinco anos e quatro meses de reclusão, em regime fechado, por assalto a um salão de beleza,
Fonte: http://www.tjma.jus.br
O olhar de Benevildo estava distante. Sentado no único canto disponível da cela - no rodízio, era sua vez de sentar -, tentava relembrar onde foi que tudo desandou. Acabara de voltar da sala em que recebeu a notícia do advogado de que a manobra jurídica tentada contra a chicana dos meandros da lei - mais das interpretações ilibadas -, fora inútil. Deram-lhe cinco anos, mais quatro meses de bônus por um roubo que sequer se consumou. Sim, houvera a intenção, mas a dona justa não fora muito dura? Isto lhe consumia os miolos.
Ele não se via como vítima, tentara de fato roubar o salão de beleza do bairro. O olho cresceu, todo final de semana era aquele monte de mulheres escovando, pintando, cortando. Aquilo só podia dar muita grana. E tudo lhe veio como se assistisse a um filme. No dia fatídico, passara em frente ao Gertrude's Coiffeur várias vezes pela manhã. Estudava e arquitetava o golpe. Convenceu-se de que seria moleza. Bastava uma faca e aquele mulherio se desmancharia de medo. O resto era passar a mão nas bolsas recheadas.
Fez a melhor cara de mau que tinha e no final da tarde entrou berrando: é um assalto. Ninguém dá um pio. Tu aí, loura oxigenada, passa o relógio. Pensou melhor. Todo mundo pro banheiro, já. Queria tempo e tranqüilidade para fazer o raspa. Nunca contou que o diabo da Gertrude tinha parentesco com aquela sujeita da música do Luís Gonzaga, a Paraíba masculina, mulher macho sim, senhor. Nem bem disse "sai pra lá peste", pegou um catiripapo no meio dos enxergantes. A faca voou. A mulherada começou a gritar feito louca e aí ele já nem sabia pra que lado ia.
O primeiro que lhe veio à mente é que aquilo não acabaria bem. Tentou sair, mas as mulheres atravancaram a porta e o tumulto atopetou tudo, porque também, a estas alturas, populares tentavam entrar para pegá-lo e nem bem espantou, já estava agarrado tomando mucicão de todo lado.
Manhã da reunião do Pleno. Os desembargadores tomam café, esperam para fazer seu trabalho. O garçom vai e vem. Ora traz um chá, ora biscoitos finos. Eles fazem hora. Coitado daquele, hein? Quem? Aquele que aposentou outro dia. É. Nem bem esfriou o assento dele aqui e os caras do quinto, cheiraram carniça e atacaram. É, mas também, deu moleza. Assinava coisa sem ver. Deixava nas mãos dos outros. Olha o buraco. Abriu os dois braços em roda, queria dimensionar o tamanho. Coitado. É, coitado.
Chega o relator. Demorou, rapaz. Tava ali resolvendo uns negocinhos. Riram. E aí, que temos hoje? Esse Benevildo, isso é lá nome de gente! Ladrãozinho perigoso. Neguei a marmotagem que o advogado dele queria. Rapaz, tu viu esta nova dos juízes fantasmas? Vi. Bobagem. Sim, mas botaram os caras e nós nem sabíamos, como é que pode? Alguém sabia, disse outro que estava calado. Quem? Alguém... Ah. E a mulher que fez a presepada? Fez muito tempo, uns cinco anos. Pra mais de três milhões pelas minhas contas. Alguém sabia. Riram. Se fosse pouco... deu na vista. Costume do cachimbo. Que que vai acontecer com ela. Ré primária, endereço sabido... Coitada. É, coitada. Um deslize.
A sessão começa. Com a palavra sua Exa., o relator. Obrigado, senhor presidente: "O réu possui inclinação para a prática de atos infracionais de extrema gravidade, como aquele análogo ao crime de roubo, qualificado pelo emprego de arma branca, de fogo e o que mais servir ao intento criminoso e concurso de agentes. Comprovada a materialidade das infrações e existindo suficientes indícios de autoria, cabe a decretação da prisão do réu. Sentencio a 5 anos e 4 meses." Regime fechado, levantou o dedo para enfatizar.
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