
Se somarmos a
onipresente rede mundial de computadores, à inteligência artificial e à
internete das coisas, podemos começar a perceber que o mundo tal qual o
conhecemos está prestes a dar uma virada, sofrer uma mudança de paradigma que
colocará em cheque o próprio entendimento do que é indústria, emprego, relações
de trabalho e, consequentemente, as relações humanas.
Está em curso,
agora mesmo, a revolução industrial 4.0. Se você imagina que isso diz respeito
apenas ao mundo da economia global e que nada tem com sua vida, está enganado.
Um comercial até certo ponto discreto do Banco do Brasil, não que outros bancos
não estejam fazendo o mesmo, dá uma ideia do que falo. Dentro em pouco, as
agências físicas serão mera lembrança. Milhares de empregos – fala-se em quinze
mil – serão ejetados e não há o que fazer a respeito.
Entre os
países desenvolvidos, espera-se que a quarta revolução industrial dizime com
cinco milhões de empregos. Assim como centenas de profissões desapareceram na
esteira dos avanços anteriores. Não há retorno. A diferença em relação às
mudanças anteriores, alertam os estudiosos, é a velocidade e a abrangência com
que esta nova revolução acontece.
Uma faculdade
patrocinada por Xavier Niel, empresário milionário do setor de tecnologia, a
universidade 42 – este é o seu nome, pois é o número da resposta ao sentido da
vida do clássico O Guia do Mochileiro das Galáxias –, está ativa na França e
EUA e vem chamando atenção. Não há professores, nem livros e é gratuita. Para
esta próxima temporada receberá mil alunos. Ela ainda está circunscrita ao
mundo da informática, mas chegará, pode apostar, nas demais áreas.

Fala-se em “darwinismo
tecnológico” nessa nova era. Quer dizer, quem não for capaz de acompanhar, será
descartado. Noutras palavras: não terá acesso às “maravilhas” desse mundo novo.
Mas o que é mesmo ser descartado ou se inserir nesta nova realidade? Não se
sabe ainda. A utopia sugere que se energias limpas, drones, robôs, impressoras
ou fábricas inteligentes, farão todo o serviço, o que faremos nós?
Como dizem os
americanos: There is
no free lunch. Onde há ganhadores, há perdedores. A questão, porem, é
mais grave que esta simples contabilidade. Diz respeito a nossa própria
identidade, e nem será necessário a construção de ciborgues mezzo humanos, mezzo máquinas, tão comuns nos filmes de ficção científica. Tem a
ver com nossa humanidade mesmo e as maneiras de expressá-la. Nem será
necessário chegarmos a um mundo como o Blade Runner em que esta fronteira entre
máquinas e homens estará borrada.
Que
doenças psíquicas nos aguardam como efeito colateral desta revolução? Que
manifestações emocionais adotaremos neste processo adaptativo radical? Esta
desafiadora situação criará castas sociais? Viveremos em guetos separados não
por condição social, mas por uma forma de ser e falar, além de interagir uns
com os outros? Precisaremos rever o que se entende agora por humanidade?